Revista LiteraLivre 18ª edição | Page 21

LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019 duas vezes “quem é?”, mas não obteve resposta. Foi quando viu, por trás das árvores, uma pessoa de cabelos ruivos compridos, encolhida, como se não quisesse ser vista. Mas se viram. E quando se viram, gritaram de susto, ao mesmo tempo. Passados alguns segundos, Celso tentou fazer contato: — Quem é você? A mulher não respondeu. Celso, então, se apresentou: disse quem era, de onde vinha, falou de seus pais e lembrou até a canção que sua mãe entoava para ele dormir. Refeita do susto, a mulher, que estava em um vestido feito de um tecido incomum, disse, enigmática: — Então, é você... — Celso olhou-a sem entender. Ela continuou: — Eu sempre soube que um dia nos encontraríamos. — Celso repetiu a pergunta: — Mas quem é você? — Eu tenho muitos nomes, mas você pode me chamar de Mãe do Mato. Atônito, Celso nada dizia. Nem, ao menos, tinha certeza se podia levar aquela mulher a sério. — Quando eu era criança — disse ela — minha mãe me contava histórias horrendas sobre um monstro sem coração que anda sobre duas pernas e assassina árvores, sem motivo. Ela dizia que, com suas máquinas de guerra, esse monstro derruba a casa de milhares de animais indefesos, provocando morte e dor. Eu sempre tive medo desse bicho, que minha mãe chamava de ser humano. Um dia, vi meu pesadelo virar realidade: minha casa foi destruída, meu mundo foi devastado, e ninguém me perguntou o que eu pensava, nem me explicou o porquê de tudo aquilo. E, agora, vivo fugida, a me esconder atrás das poucas árvores que ainda restam. Ao ouvir aquelas palavras, Celso chorou e largou o motosserra no chão. Já não tinha medo da Mãe do Mato. E nem ela, dele. Celso prometeu que nunca mais a faria mal. Em retribuição, ela o ajudou a encontrar o seu caminho. Não estava mais perdido. Depois dali, fechou a empresa. Já não via sentido em tratores e motosserras. Naquele ano, prestou vestibular para Gestão Ambiental. [18]