LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019
duas vezes “quem é?”, mas não obteve resposta. Foi quando viu, por trás das
árvores, uma pessoa de cabelos ruivos compridos, encolhida, como se não
quisesse ser vista. Mas se viram. E quando se viram, gritaram de susto, ao
mesmo tempo. Passados alguns segundos, Celso tentou fazer contato:
— Quem é você?
A mulher não respondeu. Celso, então, se apresentou: disse quem era, de
onde vinha, falou de seus pais e lembrou até a canção que sua mãe entoava para
ele dormir.
Refeita do susto, a mulher, que estava em um vestido feito de um tecido
incomum, disse, enigmática:
— Então, é você... — Celso olhou-a sem entender. Ela continuou: — Eu
sempre soube que um dia nos encontraríamos. — Celso repetiu a pergunta:
— Mas quem é você?
— Eu tenho muitos nomes, mas você pode me chamar de Mãe do Mato.
Atônito, Celso nada dizia. Nem, ao menos, tinha certeza se podia levar
aquela mulher a sério.
— Quando eu era criança — disse ela — minha mãe me contava histórias
horrendas sobre um monstro sem coração que anda sobre duas pernas e
assassina árvores, sem motivo. Ela dizia que, com suas máquinas de guerra,
esse monstro derruba a casa de milhares de animais indefesos, provocando
morte e dor. Eu sempre tive medo desse bicho, que minha mãe chamava de ser
humano. Um dia, vi meu pesadelo virar realidade: minha casa foi destruída, meu
mundo foi devastado, e ninguém me perguntou o que eu pensava, nem me
explicou o porquê de tudo aquilo. E, agora, vivo fugida, a me esconder atrás das
poucas árvores que ainda restam.
Ao ouvir aquelas palavras, Celso chorou e largou o motosserra no chão. Já
não tinha medo da Mãe do Mato. E nem ela, dele. Celso prometeu que nunca
mais a faria mal. Em retribuição, ela o ajudou a encontrar o seu caminho. Não
estava mais perdido. Depois dali, fechou a empresa. Já não via sentido em
tratores e motosserras. Naquele ano, prestou vestibular para Gestão Ambiental.
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