Revista LiteraLivre 17ª edição | Page 43

LiteraLivre Vl. 3 - nº 17 – Set./Out. de 2019 por mim. Era de fato o mais bonito do grupo. Senti um pouco de vergonha, agora iria começar a flerta com um “adolescente” consumidor de psicoativos. Levei um susto quando alguma coisa pousou em meu braço, dei um grito e um tapa. Escutei risadas vindas de trás. Eram meus companheiros de viagem, rindo de minha atitude ridícula. “Fiz para você; vi que ficou olhando”. Disse. Abaixei para pegar enquanto escutava os outros passageiros reclamando do barulho. Era um baseado embrulhado em um papel de seda azul. O que eu vou dizer para os policiais rodoviários se fôssemos parados em uma blitz, que aquilo não era meu. O rapaz ainda me olhava, eu não sabia o que dizer, obrigado, talvez. Na pior das alternativas perguntei quanto era. Ele disse que se tratava de um presente. “Não é nada.” Respondeu. Dei um sorrisinho amarelo. O ônibus já tinha ganhado a rodovia de novo. Coloquei os fones de ouvido e guardei o baseado dentro do bolsinho da mochila, com cuidado para não desfazer o embrulho. Desta vez sonhei com campos de lavanda no sul da França, um lugar que nunca tinha ido. Acordo, era esse o cheiro; meu estômago revira. Levanto tampando a boca com a mão e vou correndo até o banheiro no fundo do ônibus. https://www.facebook.com/anderson.mirandafalcao [40]