LiteraLivre Vl. 3 - nº 17 – Set./Out. de 2019
por mim. Era de fato o mais bonito do grupo. Senti um pouco de vergonha, agora
iria começar a flerta com um “adolescente” consumidor de psicoativos.
Levei um susto quando alguma coisa pousou em meu braço, dei um grito e
um tapa. Escutei risadas vindas de trás. Eram meus companheiros de viagem,
rindo de minha atitude ridícula.
“Fiz para você; vi que ficou olhando”. Disse.
Abaixei para pegar enquanto escutava os outros passageiros reclamando do
barulho. Era um baseado embrulhado em um papel de seda azul. O que eu vou
dizer para os policiais rodoviários se fôssemos parados em uma blitz, que aquilo
não era meu. O rapaz ainda me olhava, eu não sabia o que dizer, obrigado,
talvez. Na pior das alternativas perguntei quanto era. Ele disse que se tratava de
um presente.
“Não é nada.” Respondeu.
Dei um sorrisinho amarelo. O ônibus já tinha ganhado a rodovia de novo.
Coloquei os fones de ouvido e guardei o baseado dentro do bolsinho da mochila,
com cuidado para não desfazer o embrulho.
Desta vez sonhei com campos de lavanda no sul da França, um lugar que
nunca tinha ido. Acordo, era esse o cheiro; meu estômago revira. Levanto
tampando a boca com a mão e vou correndo até o banheiro no fundo do ônibus.
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