LiteraLivre Vl. 3 - nº 17 – Set./Out. de 2019
Ana Paula de Oliveira Gomes
Fortaleza/CE
O Vacilo do Louro
Meu Louro - na verdade, de verde cor – não era um papagaio, mas O
Papagaio. Exímio falador, auxiliava sua dona nas atividades desenvolvidas: andar
na contramão como já cantara Raul!
A polícia, por seu turno, de olho já se encontrava na movimentação.
Contudo, jamais desconfiara de Meu Louro como olheiro, na verdade, baita
olheiro! Bem treinado, em toda batida policial, bradava à humanidade:
“-Chegaram, chegaram”.
Ato contínuo, a dona em direção ao esconderijo. Zero por cento de êxito nas
operações da autoridade pública! Mas a fonte não era confiável? Quando o povo
fala, não foi ou é ou está para ser?!
O caso começou a intrigar a polícia. Diversas tentativas frustradas. Questão
de honra capturar a suposta infratora! E mais uma busca no vácuo. No entanto,
como por milagre, erigiu o grito denunciador:
“-Polícia se foi, polícia se foi”.
Em bom “cearensês”: Meu Louro deu um vacilo! Silêncio eloquente. O nada
foi tudo no azo. Tocaia. A espera não seria, desta feita, vazia esperança.
Miraculosamente, a espera seria o sonho dos acordados...
Apareceu a desaparecida e até Meu Louro foi em cana!!! Cem por cento de
acerto. O curioso foi o batismo da operação policial: “Aparecida”. Insólito pelo
fato em si e pela nominação a posteriori. Na casuística em questão, em que pese
a semelhança com a ficção, ouvi dizer que se trata de fato.
Na contemporaneidade nada reflexiva, o virtual, não raro, é real. Não vou
dizer que é mentira o caso narrado pelo colega conversador de histórias. História
ou estória de JJ?
O tudo resultou do nada. O nada àquele ocultara. A profecia se cumpriu:
“Não há nada encoberto que não venha a ser descoberto”. Qualquer semelhança
com a realidade, mera coincidência? Ou providência? Há cousas nesta vida que é
melhor sem saber!
[36]