Revista LiteraLivre 17ª edição | Page 38

LiteraLivre Vl. 3 - nº 17 – Set./Out. de 2019 Ana Paula Cândido Paraíba do Sul/RJ O grito dos indefesos Eva andava pelas vielas do centro da cidade, com a nítida impressão de que alguém ou alguma coisa a perseguia. O relógio da catedral marcava duas horas da manhã e não se via mais ninguém na rua. O medo tomou conta de sua fisionomia e ela aumentou o passo. Suas pernas pareciam fraquejar,mesmo cansada, ela não esmorecia e seguia firme no seu curso. Havia saído de madrugada para buscar remédio para a mãe que convalescia de uma doença terminal, porém todas as farmácias estavam fechadas. A moça sentia a respiração da coisa se aproximando e ao virar em uma estrada de chão, caiu em um buraco. Um buraco de quase dois metros. Desmaiou. Em sonho,ouvia a mãe chamando por ela, todavia não conseguia responder. Acordou algum tempo depois, e lá de cima, alguém a observava. Uma criatura de olhos brilhantes. O ser monstruoso uivou chamando pelo bando. Não demorou muito e mais criaturas apareceram. Formaram uma corrente em torno do buraco, onde fizeram uma espécie de ritual. O bando batia os pés no chão e emitia um som, similar a um grito. Um grito pavoroso. O grito da morte. De repente pararam e ficaram imóveis. A jovem pedia socorro, contudo era em vão. Ninguém a escutaria. Subitamente,uma das criaturas pulou dentro do buraco e ficou frente a frente com a jovem. Eva gritou o mais alto que conseguira e, ao mesmo tempo, o monstro abriu a boca e o seu grito foi sugado pela criatura horrenda. Eva emudeceu. Tentou gritar novamente, porém nenhum som saía da sua boca. O bicho se transformou em humano e deixou Eva na cova funda. Quando olhou para a garota, o monstro estava exatamente igual a ela. Um clone. Viveria sua vida,e ninguém nunca saberia do ocorrido. O tempo passou. Mais pessoas foram possuídas. Eva e todas as outras vítimas morreram sozinhas e caladas. https://www.facebook.com/contosdoamanhecer/ [35]