LiteraLivre Vl. 3 - nº 17 – Set./Out. de 2019
Ana Paula Cândido
Paraíba do Sul/RJ
O grito dos indefesos
Eva andava pelas vielas do centro da cidade, com a nítida impressão de que alguém ou
alguma coisa a perseguia. O relógio da catedral marcava duas horas da manhã e não se via
mais ninguém na rua. O medo tomou conta de sua fisionomia e ela aumentou o passo. Suas
pernas pareciam fraquejar,mesmo cansada, ela não esmorecia e seguia firme no seu curso.
Havia saído de madrugada para buscar remédio para a mãe que convalescia de uma
doença terminal, porém todas as farmácias estavam fechadas. A moça sentia a respiração
da coisa se aproximando e ao virar em uma estrada de chão, caiu em um buraco. Um
buraco de quase dois metros. Desmaiou. Em sonho,ouvia a mãe chamando por ela, todavia
não conseguia responder. Acordou algum tempo depois, e lá de cima, alguém a observava.
Uma criatura de olhos brilhantes.
O ser monstruoso uivou chamando pelo bando. Não demorou muito e mais criaturas
apareceram. Formaram uma corrente em torno do buraco, onde fizeram uma espécie de
ritual. O bando batia os pés no chão e emitia um som, similar a um grito. Um grito pavoroso.
O grito da morte. De repente pararam e ficaram imóveis.
A jovem pedia socorro, contudo era em vão. Ninguém a escutaria. Subitamente,uma
das criaturas pulou dentro do buraco e ficou frente a frente com a jovem. Eva gritou o mais
alto que conseguira e, ao mesmo tempo, o monstro abriu a boca e o seu grito foi sugado
pela criatura horrenda. Eva emudeceu. Tentou gritar novamente, porém nenhum som saía da
sua boca.
O bicho se transformou em humano e deixou Eva na cova funda. Quando olhou para a
garota, o monstro estava exatamente igual a ela. Um clone. Viveria sua vida,e ninguém
nunca saberia do ocorrido.
O tempo passou. Mais pessoas foram possuídas. Eva e todas as outras vítimas
morreram sozinhas e caladas.
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