Revista LiteraLivre 17ª edição | Page 29

LiteraLivre Vl. 3 - nº 17 – Set./Out. de 2019 Alessandra Cotting Baracho Maceió/AL Savana Naquela noite de junho, Savana caminhou lentamente para o fim. Ela não sabia, ainda, mas cada passo que dava, pé ante pé, aproximava-a mais do seu destino. Sim, é isso mesmo, caro leitor. Direto ao ápice, sem delongas. Essa narrativa que aqui vos trago, se inicia pela parte mais importante da vida da protagonista. Savana costumava fechar os olhos durante o ócio e imaginar como seu nome fora escolhido; Savana, nome de guerreira, coragem derramando em cada letra. Era seu, fora dado especialmente; e apropriava-se dele enfrentando cada batalha diária. Naquela noite, porém, não pode pensar na máxima; pelo contrário, ponderou sobre a quão mentirosa se mostrara; ela era Savana, sim, só que permeada por medo e dor. Caminhou sem rumo como os loucos costumam fazer. Não que ela o fosse, nem mesmo temia tal condição; apesar de se pegar pensando, por vezes, no giro de dedo que fazemos para representar esse estado. Ali, arrastando-se pela cidade, sentiu-se assim, o chão, um redemoinho sob seus pés. Os postes que clareavam as ruas causavam-lhe ânsia e raiva, deviam nortear sua jornada naquela noite estranha como uma aparição. Não serviram; Savana não sabia mais onde estava, tampouco quem era; as luzes, tão fortes que doíam sua retina, não eram capazes de iluminar a escuridão que a tomava, apenas mostrava que não tinha mais onde ir; a sua frente um nada frio e denso, quase palpável. Desejou poder aninhar-se no colo da mãe, com seus beijos de passarinho, miúdos, tão repletos de amor que a envolvia de dentro para fora e visse e versa. Não tinha mais a mãe, nem o amor, não tinha nada. No desespero contido que corroía como um câncer terminal, concluiu que não havia mais saída. E foi assim, numa lufada de ar, quando a ciência lhe atingiu como um punhal afiado, que um novo cenário se desenhou: havia, sim, um jeito, fácil e rápido. Talvez doesse, é verdade; entretanto não seria mais do que já doía. Não posso, portanto, dizer se foi coragem ou covardia. Naquela noite fria de junho, sob as luzes incandescentes dos postes de concreto, Savana sentiu-se repentinamente calma e caminhou a passos largos em direção ao seu destino final. [26]