LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019
choro de criança. Corri. Conduzi. Apertei o passo contrário aos perigos. Inchei.
Pouco reclamei e jamais desisti.
Minha existência, entretanto, nunca dependeu apenas de mim e o devido valor
não me foi dado. Hoje, estático sobre este travesseiro, já não posso cumprir
minha função, passa por entre minhas veias um sangue excessivamente doce e
doente. O pâncreas enfermo produz um líquido corrompido e diabético que ulcera
nos membros inferiores, principalmente em mim, extremidade infeliz e esquecida
do corpo. Conformado, aguardo. Aguardo o dia em que as feridas serão tão
críticas, que todo o meu honroso trabalho será esquecido e jogar-me-ão fora
como um simples objeto inepto, caduco pelo tempo, amputado e desvalidado
pelos atos irracionais de um indivíduo ingrato.
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