Revista LiteraLivre 16ª edição | Page 130

LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019 para o sinal, e davam continuidade ao trabalho, e só paravam quando estavam completamente esgotados. O cansaço era tanto, que alguns deles dormiam no chão mesmo, sem nenhuma proteção, e quando acordavam no meio da noite, e abriam os olhos, viam entre seus pés, muitos ratos e baratas, que eram atraídos pela quantidade de lixos que estavam a sua volta. Muitas das coisas que pareciam ser simples aos olhos da maioria das pessoas, como tomar banho, se tornava uma raridade para aquelas pessoas que quase sempre dormiam sujas, e uma vez ou outra, conseguiam um pouco de água para lavar os pés e o rosto. Era comum observar em plena luz do dia, o sacrifício que aquelas famílias faziam para preparar a comida; montavam um fogão improvisado com pedaços de tijolos, gravetos e álcool. E torciam para que a panela feita de lata não furasse com o calor das chamas. Assim que a panela saía do fogo, e a comida esfriava um pouco, uma roda de crianças e adultos famintos se formavam em torno dela, e devoravam todo o alimento com as mãos. Era triste observar toda aquela realidade se repetir diariamente, e ver aquelas pessoas desassistidas em suas necessidades básicas, e o mais cruel de tudo, sendo mortas lentamente, sem dó e nem piedade pelos ditos “seres humanos”. Cansado de tanto sofrimento, um dos moradores de rua ligou para a imprensa e informou que no Largo dos Mares iria acontecer um suicídio em massa. A equipe de reportagem não demorou a chegar ao local, olhava de um lado para o outro, e procurava os suicidas, mas não os encontraram. De repente, um grupo de moradores de rua se aproximou dos repórteres, e se posicionou de costas para eles, e exibiu uma frase que estava estampada em suas camisas “Somos fantasmas que vocês e a sociedade se negam a enxergar”. Por descuido, os repórteres estavam transmitindo tudo ao vivo. @alvorecersantos 127