LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019
Uma partícula minúscula de pedra-pomes se agarrou a ele. Paulinho nunca
tinha-se visto a si mesmo em um espelho. Naquele dia, sua amiga disse-lhe que
era uma maravilhosa peça de quartzo iridescente, uma gota de vidro vulcânico,
que refratava as mais belas cores do espectro... Uma pena verdadeira, que ela
não se pudesse admirar!
Por muitos séculos, a nuvem da erupção cobriu os céus do mundo. Foi a longa
lua-de-mel com a Pomicinha sempre ligada com ele. Abaixo deles, as cores se
tornaram obscuros. Era a sombra de sua nuvem, que cobria e resfriava o globo.
Na altitude, no entanto, que maravilha de luz e cores! Os grãozinhos rodavam,
arrastados por cada sopro de vento, para compor todas as tonalidades do arco-
íris, todas as reflexões, todas as transparências que podem sair dos jogos entre
os minerais nascidos no ventre da Terra. Nessa altura a Terra, vista do espaço,
deve ter parecido um grande globo luminoso, ou pelo menos cercado por uma
espécie de lenço brilhante.
Ao longo do tempo, a nuvem era destinada a assentar-se. Um dia, finalmente,
Paulinho viu a superfície da Terra: quanto tinha mudado! Tudo era verde, o
mundo era povoado por animais de todos os tipos. A corrente de vento que
levava os grãozinhos foi assentando-se. Foi então que Paulinho e a sua parceira
decidiram não parar nunca mais na superfície do globo. Era demasiado agradável
viajar, levados pelo vento, e ver o mundo mudando, com todas as cores e todos
os seus perigos. Quantas vezes arriscaram de ser queimados pela erupção de um
vulcão! Um par de vezes as correntes do ar, nas montanhas, os levaram até os
limites da atmosfera. Nessas altitudes, Paulinho viu novamente o céu negro
acima dele, como no início de sua existência.
As coisas ao seu redor mudavam. Os sopros de ar os arrastavam de cima a
baixo, por todos os continentes e sobre os mares, e faziam sentir vivo o Paulinho,
com a sua parceira Pomicinha. Os dois, no entanto, não mudavam, ficando
sempre os mesmos que no primeiro momento da sua existência. Eles nunca
foram alterados, não respiravam, não cresciam, não estavam vivos. Durante a
longa viagem, suspensos no ar do planeta, tinham visto muitos seres vivos
nascendo, crescendo, envelhecendo e morrendo. Os dois, no entanto, como todos
os grãozinhos de areia, mantiveram-se sempre iguais, como no primeiro dia da
sua existência. O ar era importante, essencial para o movimento contínuo, mas
podiam também existir sem ele. Até viam com maravilha que os seres vivos do
mundo animal e do mundo vegetal, nesse globo rico de cores, ao qual eles
também pertenciam, não poderiam existir sem aquela camada de ar, que não só
dava-lhes as cores, as sombras, mas também o movimento e mesmo a vida.
Um dia apareceu um longo cilindro branco, flamejante, subindo rapidamente,
disparado a partir do solo. Eles queriam experimentar a emoção de apanhar esse
objeto: eles tinham ouvido dizer que era a mais recente descoberta, em termos
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