LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019
vida era normal, isso fazia com que ele entrasse e saísse voando da casa da mãe.
O pai morrera um tempo. A mãe ficara carente e solitária. Um saco! Mimava-o
quando pequeno e agora tinha essa carência de setenta e poucos anos.
Um eterno passar a mão na cabeça.
O menino olhava aquela casa enorme e mais de uma vez opinara em vender a
casa. Ir para um apartamento pequeno, de um quarto, melhor, ela não precisaria
ficar cuidando daquela casa enorme, apesar da empregada e de um faz tudo que
capinava o quintal, podava as árvores e na árvore a mãe apelava de novo.
Lembra quando você caiu do pé de manga? Outro susto. Menino levado só vivia
dando susto nos pais e nos vizinhos. Teve aquela vez ainda da fratura no braço.
Um dia e uma noite no hospital. Precisou fazer uma cirurgia, queriam que você
ficasse lá e de filho quem cuida é a mãe. Chocolate quente, suspiro, aquela torta
de banana que era impossível comer um pedaço só. E você se empanturrava.
Torta de banana com bastante calda. Caramelada. Açúcar queimado e era de
lambuzar.
Sim, era de lambuzar.
Mas vender a casa era insistência do filho. Você quer matar a sua mãe? Não
queria. Era apenas preocupação. Talvez fosse sincera ou talvez fosse para
acalmar o remorso de não levar a mãe para morar com ele. A maldita correria.
Então que sua mãe morra aqui nesta casa. Esquecida, abandonada, como se
estivesse em um asilo, como se ser mãe fosse uma coisa descartável.
Mantimento de prateleira de supermercado.
O menino sacudia a cabeça.
Pensava na violência, pensava naquela rua onde passara bons momentos e boa
parte da vida dele, saindo para casar e sumir, exagero, ia ver a mãe sempre que
podia e podia sempre, o problema era a correria da vida que fazia com que ele
entrasse, comesse um pedaço de torta de banana, tomasse um cafezinho preto e
quentinho e voltasse a se jogar no furacão.
E assim se repetia.
Toda vez que ia à casa da mãe ligava antes para que ela fizesse a torta de
banana e ela fazia.
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