LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019
Torta de Banana
Joedyr Bellas
São Gonçalo/RJ
Toda vez em que ia à casa da mãe para uma visitinha rápida, visitinha de
médico, porque a vida de Olavo era atropelada. A mãe reclamava, a mãe exercia
seu papel de mãe, sua autoridade, mas nada o comovia, nada adiantava.
Então apelava para o emocional, chegava a beirar chantagem, mas na cabeça da
mãe não se tratava de chantagem. Era amor transbordando, mágoa talvez. O
menino estava sempre com pressa.
Lembra meu filho quando você era criança? Poxa mãe já faz tanto tempo. Sim,
meu filho, mas eu me lembro direitinho de você correndo nesta casa. Sempre
correndo. Eu deveria ter dado um corretivo naquela época. Seu pai me instigava
a usar o chinelo. Maria esse menino só vive correndo. Qualquer dia mete a fuça
no chão, aí já viu. Vai ter choradeira. E se ele quebrar um vaso. Não quebrara um
só. Tinha quebrado um monte de vaso e também alguns copos, umas porcelanas,
até a pia do banheiro quebrou porque além de correr o menino só vivia
pendurado.
Que susto.
Corre-corre na casa. Sempre correria. Entrava vizinho, saía vizinho. Todo mundo
preocupado. Fizera um barulho de abalar os alicerces. Além do barulho a terra
tremera. Parecia aquela noite em que o menino, já crescido e sumido, no Japão
correu para fora do hotel. Foi um terremoto daqueles.
O menino balançou a cabeça.
A mãe, achando que pegara o filho de jeito, foi abrindo o coração junto com as
borboletas que o menino vivia correndo atrás delas lá no quintal. Não era
maldade, não era para pegar a borboleta e aprisioná-la em um recipiente com
álcool. Puro prazer. O prazer de o menino não parar de correr e ficar vendo o
colorido das asas ao sol. Tadinho, o menino fechava os olhos, ficava incomodado
com a claridade, era o astigmatismo já manifestado e também teve a miopia. As
professoras, uma em especial alertara ao pai e à mãe. É uma dificuldade enorme
para ele ler na lousa o que está escrito.
Usou óculos e foi aquela dificuldade de adaptação.
O menino sacudia a cabeça, estava incomodado. Por isso que não demorava lá na
casa da mãe. Lógico, tinha a correria da vida. Normal. Fazer dinheiro, satisfazer
Cristina, pagar os estudos das crianças, cuidar dos projetos arquitetônicos. Muito
trabalho. A vida urgia, a vida engolia, a vida empurrava, a vida não deixava
ninguém parado. Parado já viu. O ônibus passa do ponto. Lógico a correria da
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