Revista LiteraLivre 16ª edição | Page 220

LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019 Torta de Banana Joedyr Bellas São Gonçalo/RJ Toda vez em que ia à casa da mãe para uma visitinha rápida, visitinha de médico, porque a vida de Olavo era atropelada. A mãe reclamava, a mãe exercia seu papel de mãe, sua autoridade, mas nada o comovia, nada adiantava. Então apelava para o emocional, chegava a beirar chantagem, mas na cabeça da mãe não se tratava de chantagem. Era amor transbordando, mágoa talvez. O menino estava sempre com pressa. Lembra meu filho quando você era criança? Poxa mãe já faz tanto tempo. Sim, meu filho, mas eu me lembro direitinho de você correndo nesta casa. Sempre correndo. Eu deveria ter dado um corretivo naquela época. Seu pai me instigava a usar o chinelo. Maria esse menino só vive correndo. Qualquer dia mete a fuça no chão, aí já viu. Vai ter choradeira. E se ele quebrar um vaso. Não quebrara um só. Tinha quebrado um monte de vaso e também alguns copos, umas porcelanas, até a pia do banheiro quebrou porque além de correr o menino só vivia pendurado. Que susto. Corre-corre na casa. Sempre correria. Entrava vizinho, saía vizinho. Todo mundo preocupado. Fizera um barulho de abalar os alicerces. Além do barulho a terra tremera. Parecia aquela noite em que o menino, já crescido e sumido, no Japão correu para fora do hotel. Foi um terremoto daqueles. O menino balançou a cabeça. A mãe, achando que pegara o filho de jeito, foi abrindo o coração junto com as borboletas que o menino vivia correndo atrás delas lá no quintal. Não era maldade, não era para pegar a borboleta e aprisioná-la em um recipiente com álcool. Puro prazer. O prazer de o menino não parar de correr e ficar vendo o colorido das asas ao sol. Tadinho, o menino fechava os olhos, ficava incomodado com a claridade, era o astigmatismo já manifestado e também teve a miopia. As professoras, uma em especial alertara ao pai e à mãe. É uma dificuldade enorme para ele ler na lousa o que está escrito. Usou óculos e foi aquela dificuldade de adaptação. O menino sacudia a cabeça, estava incomodado. Por isso que não demorava lá na casa da mãe. Lógico, tinha a correria da vida. Normal. Fazer dinheiro, satisfazer Cristina, pagar os estudos das crianças, cuidar dos projetos arquitetônicos. Muito trabalho. A vida urgia, a vida engolia, a vida empurrava, a vida não deixava ninguém parado. Parado já viu. O ônibus passa do ponto. Lógico a correria da 217