Revista LiteraLivre 16ª edição | Page 154

LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019 adjetivos, não podia ser ela, claro que não podia! Uma mulher assim podia ser devassa, sexy, dançarina de banda de axé, menos romântica. Menos ainda sozinha. Ou não recebera sua mensagem, vai ver tinha deixado o celular desligado. Ou acabara a bateria. “Barraca do Goiano, às 12 horas, sou alto, cabelos pretos, olhos castanhos, meio magro.” No 5º dia lá estava ele no lugar marcado, esperando um encontro marcado. Já tinha pedido a conta quando ela apareceu. Ela era. Tinha todo o jeito: não era nenhuma Camila Pitanga, é verdade, mas não era feia, a pele marrom- bombom, olhos pretos (viu quando tirou os óculos que não eram de sol e colocou-os na mesa). Cabelos anelados, curtos, presos por baixo com uma tiara, boca grande e o rosto liso liso, como trabalhado em photoshop. Estava acompanhada de uma amiga – ou irmã, sabe-se lá – que minutos depois a deixou só como quem a deixava para o encontro. Preparou a cadeira, pegou um livro. “Os 50 tons do amor”, de E. Leopard James. Colocou os óculos. Aumentou sua (dele) certeza. Com aquele livro, só podia ser ela. Fingia que lia. Sim, ela estava fingindo. Mas seus olhos procuravam ao redor. Ao passarem por ele, sorriram, olhos e boca, e seu coração saiu pela sua (dele). Ou quase. No entanto, os olhos não demoraram muito sobre ele. Procuravam outros – rapazes? – baixos, claros, gordos, negros. Juntou suas coisas, blusa, bermuda, o Neruda e foi para a pousada. Vai ver, no dia em que gravou seu número na areia era seu (dela) último dia na praia, estava se despedindo. Vai ver, era isso. 151