Revista LiteraLivre 16ª edição | Page 148

LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019 Ilustração: Canva O Crime de Leonora Paulo Luís Ferreira São Bernardo do Campo/SP “Quem sabe um dia; Quem sabe um seremos; Quem sabe um viveremos; Quem sabe um morreremos!” (Mário Quintana) O remorso é o maior delator de um crime. Nesse instante sinto a morte invadindo meus sentidos, e esse sentir me aterroriza. Faz dias que eu não me alimento e não durmo. O remorso dói como uma ferida aberta a sangrar pelos móveis, pelo teclado do computador, de onde escrevo agora. Pelas pernas, encharcando as meias de sangue. Eu fico olhando as paredes que eram brancas, vendo imagens que correm de lado a outro. Quando deparo com manchas de escarlate seiva desenhando a cara dela. Caminhando de cabeça para baixo pelo teto. A boca aberta. A língua, ora serpenteando, ora estirada, tesa, apontando para mim, acusando-me. Falando coisas terríveis dentro do meu ouvido. Eu 145