Revista LiteraLivre 16ª edição | Page 146

LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019 choro de criança. Corri. Conduzi. Apertei o passo contrário aos perigos. Inchei. Pouco reclamei e jamais desisti. Minha existência, entretanto, nunca dependeu apenas de mim e o devido valor não me foi dado. Hoje, estático sobre este travesseiro, já não posso cumprir minha função, passa por entre minhas veias um sangue excessivamente doce e doente. O pâncreas enfermo produz um líquido corrompido e diabético que ulcera nos membros inferiores, principalmente em mim, extremidade infeliz e esquecida do corpo. Conformado, aguardo. Aguardo o dia em que as feridas serão tão críticas, que todo o meu honroso trabalho será esquecido e jogar-me-ão fora como um simples objeto inepto, caduco pelo tempo, amputado e desvalidado pelos atos irracionais de um indivíduo ingrato. 143