Revista LiteraLivre 15ª edição | Page 85

LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019 Dunas Ligia Diniz Donega Ribeirão Preto/SP Entre as pequenas dunas as gaivotas começam a chegar em mais um fim de tarde. Como pétalas brancas jogadas ao vento, cruzam o ar em voos rasantes, planando sobre a areia e pousando na espuma que fica da onda que vai. Na extremidade oposta, na ponta esquerda da praia, o pequeno forte desponta no alto das pedras, sob um céu límpido azul. Com suas nadadeiras marcando a areia molhada, as gaivotas parecem saber que esse pedaço de paraíso é delas. Ciscando ali e aqui, metem o bico amarelo na água gelada em busca de alimento. O mar, ora azul, ora verde, cada vez mais vai adentrando a faixa de areia, predizendo que a noite se aproxima. Entre as pequenas dunas, o casal deitado olha o céu. A mulher brinca com um punhado da areia branca e fina, deixando-a escorrer entre os dedos. Imagina uma ampulheta, onde rapidamente os minutos passam para o compartimento de baixo. Como gostaria que o tempo parasse, só por um breve instante! Com a outra mão, busca o homem ao seu lado. Ela vira a cabeça, fitando seu perfil. Ele tem no semblante um ar pueril, algo que a encanta. Não o conhece além de poucas horas apenas. Tão pouco, mas o bastante para amá-lo. Sim, não é necessária uma vida para amar, tinha descoberto isso hoje. Seu coração se aperta ao vê-lo assim tão perto. Logo estariam longe, como sempre estiveram. Tem vontade de beijá-lo mais uma vez, se aninhar ao corpo dele, sussurrar em seu ouvido que não quer perdê-lo. Subitamente, ele pega a pequena câmera e aponta para o céu. Quer fotografar as gaivotas por outro ângulo. — Assim por baixo é mais legal. O que acha? Ficam então observando as aves, ele clicando uma vez após a outra, tentando acompanhar a rapidez com que voam. Ela não se atreve interromper. 82