LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019
Há sete horas tinham se conhecido. Com os guarda-sóis próximos, foi fácil
começar uma conversa. De início ele lhe perguntara:
— Sabe porque essas águas têm esse tom azul-turquesa?
Uma simples pergunta que poderia ter demonstrado pouco interesse. Mas não.
Ficou ouvindo com prazer o rapaz explicar sobre a ressurgência e o efeito do
reflexo da luz do sol na água. Ele era dali mesmo. Ela, uma turista em seu último
dia de viagem. Mais tarde, ele convidou-a a andar até as dunas onde a praia
ficava deserta, sem o aglomeramento de pessoas e barraquinhas.
— Olha essa como ficou bacana — ele a lembra do presente, mostrando a foto.
Guarda a câmera no bolso da bermuda e vira de lado. Estica o braço e com o
dedo indicador desliza lentamente pela testa dela, nariz e lábios, desenhando seu
perfil no ar. Ela sente um leve tremor por dentro. Sorri. Ele pega seu rosto,
virando-o para ele. Beijam-se demoradamente e então, sem que nenhuma
palavra fosse necessária, desaguam seus anseios num canto do fundo infinito da
praia, como se há muito se conhecessem e se amassem. Em meio ao revoar
incessante, afundam-se na areia macia, buscando, entre os grãos, a paz perdida
e brevemente reencontrada. Ficam longos minutos deitados lado a lado com as
pernas entrelaçadas, ela com a mão pousada no peito dele. Em seguida ele a
puxa e vão para o mar. Brincam como crianças sem se importarem com o céu
prestes a cair no mar, a areia escoando pela ampulheta e tampouco com a tarde
que vai sumindo num dia de verão.
Ao se despedirem, ela comenta o quão pouco sabem um do outro.
— Melhor assim. As histórias que não contamos são as mais interessantes
— ele respondeu.
Abraçam-se no último beijo. Nada mais a dizer, nenhuma promessa a
cumprir. Porém, muito o que lembrar e nenhum pesar por se arrepender. No
olhar que trocam, a despedida inadiável. Nas pegadas na areia, os caminhos
opostos de cada um.
Ao deixar a cidade, ela não somente dava adeus àquele lugar, mas também a um
amor consumado na areia fina e compartilhado com as gaivotas. Em seu último
olhar para a praia, pareceu-lhe vê-la ainda mais bela sob a primeira luz da
manhã dourando a areia molhada. Fecha os olhos pensando nas dunas. Somente
elas sabem, somente elas viram que o amor fora seu apenas por algumas horas,
algo que, na verdade, já pertencia àquela praia e seu mar azul-turquesa, muito
antes de se encontrarem. E ali permaneceria.
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