LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019
mesmo tempo especial por poder fazer parte dele. Com a grande mão do pai
sobre o seu ombro delicado guiou-a gentilmente até à secretária e ajudou-a a
sentar-se num banco, ao lado estava o cavalete de cedro que ele próprio
construiu e sobre ele uma tela de grande dimensão. Ao canto, perto dos pincéis
estavam folhas soltas de papel de arroz com imagens monocromáticas de
castelos, montanhas e árvores de flor de cerejeira. Os seus dedos procuravam
sentir aquela textura quando fora interrompida pelo entusiasmo do pai que
pousou a pedra na madeira. Falou que já tinha algumas numa máquina para as
quebrar até ficarem grãos de cinco milímetros. Endireitou os óculos redondos
com um sorriso. Aquele sorriso que único, carinhoso e sonhador procurava uma
saída para um mundo colorido, onde o luto eram apenas lágrimas secas.
Absorvidas pela terra e transformadas em flores, belas e alegres, como a sua
falecida amada (…).
https://behance.net/dkurebayashi
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