LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019
O senhor Alec demonstrou-se claramente aborrecido, mas afinal era uma
cidade fictícia, Eddie precisava saber exatamente o que colocar.
- S-O-N-D-A-L-E - Disse o senhor friamente. Eddie terminou de digitar e fez
um gesto para que ele continuasse, lembrando em seguida de sua deficiência e
então expressando o pedido verbalmente. - Para a jovem e nada condizente com
sua realidade Silvia Brokst, foi definitivamente o ano mais importante de sua
vida...
- Espere, temos o mesmo problema de antes... Quando for falar nomes de
pessoas ou lugares soletre pra que seja perfeito, ok?
- Seus irmãos e seus pais já não lhe davam atenção, era dedicada às
pesquisas e isso bastava para criar a ilusão de que era feliz - Prosseguiu o senhor
Alec sem dar muita importância ao último comentário.
E assim se seguiu, naquela tarde tortuosa, o discurso de incontáveis palavras
e sentenças, descrevendo cada vez mais a jovem Silvia e seus sentimentos, sua
vida da qual ninguém mudaria uma ponta mas na qual ela própria não se sentia
segura.
Eddie tentava ao máximo não interromper o senhor Alec durante suas
sentenças, mas aquilo não era igual ao que estava habituado nas reuniões do
escritório em que trabalhava. Era preciso se adequar aquele novo trabalho,
cooperar com o velho já abatido e tentar facilitar ao máximo as coisas. Estava
trabalhando sua paciência mais do que nunca.
O senhor Alec se sentia plenamente disposto, afinal não contava uma estória
havia muito tempo. Lembra-se dos dias que passava de frente para o
computador finalizando uma trama, ou começando outras... Sentia falta disso, e
agora não era mais do mesmo modo. Ainda assim poder fazer isso era
gratificante, se pelo menos Eddie não fosse tão jovial e apressado, pensava ele...
Ao final da tarde, lá pelas seis, o sol já se despedia da cidade e cobria o
cômodo sem luz artificial da sala de um alaranjado aconchegante.
- E é isso por hoje, certo? - Perguntou Eddie estalando os dedos e torcendo
para que o senhor Alec não pedisse que ficasse mais um pouco.
- Sim, já pode ir, garoto - Disse ele se levantando duramente da poltrona. -
Pelo menos temos o começo.
Eddie sorriu e salvou o arquivo no computador.
- Sabe... - Disse pegando sua pasta e as demais coisas que trouxe. - Não foi
tão ruim, conseguimos duas páginas. Pra um primeiro dia deve ser ótimo.
O senhor Alec nada disse. Resmungou um pouco e pegou sua bengala,
depois vasculhou a mesinha de apoio ao lado da poltrona à procura da xícara
vazia de café.
- Volte amanhã - Foi só o que disse.
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