LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019
O Vôo da Monarca
JAX
Passaram-se semanas desde que a mulher havia viajado para tentar o
tratamento no centro hospitalar daquele país distante, onde vivia o primogênito
do casal. Diziam que era uma técnica pioneira, somente ali disponível, com
grande possibilidade de êxito. O filho viera de lá para acompanhá-la.
Ao marido, restou o consolo da esperança. Se sua amada se recuperasse,
que felicidade! Ele próprio às voltas com um câncer que lhe retirava as forças
cada vez mais, não teve condições de tomar o avião com ela. No dia da partida,
sentiu-se tão mal que nem ao aeroporto conseguiu ir. Pediu o retrato de ambos
que ficava na estante da sala íntima e segurou-o o mais firme que pôde, até que
a enfermeira o convenceu a deixá-lo sobre o criado mudo do seu lado. Olhava-o
todo dia e imaginava que a esposa estava em casa, pronta a vir assim que a
chamasse.
O tempo corria, porém. Nenhuma perspectiva, por ora, de que o tratamento
estivesse prestes a concluir e a liberá-la para o regresso ao lar. Por mais que o
amor nutrisse a esperança, pesava muito a tristeza da separação. Todo dia,
comunicavam-se pelos meios disponíveis na internet. Não obstante, inexiste
tecnologia suficiente para superar o distanciamento físico e a absoluta
necessidade da proximidade pessoal, do contato afetivo. O homem sofria a dor
da momentânea separação mais do que as ocasionadas por seu mal incurável.
Uma tarde, chegam más notícias. O tratamento parou de surtir efeito. O
filho, de natural contido, não resistiu às lágrimas para dar a entender que
deveriam preparar-se para o pior. Sem saber o que responder, o marido pediu
licença para interromper a chamada e pensar consigo mesmo. Pensou e
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