Revista LiteraLivre 15ª edição | Page 167

LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019 O Vôo da Monarca JAX Passaram-se semanas desde que a mulher havia viajado para tentar o tratamento no centro hospitalar daquele país distante, onde vivia o primogênito do casal. Diziam que era uma técnica pioneira, somente ali disponível, com grande possibilidade de êxito. O filho viera de lá para acompanhá-la. Ao marido, restou o consolo da esperança. Se sua amada se recuperasse, que felicidade! Ele próprio às voltas com um câncer que lhe retirava as forças cada vez mais, não teve condições de tomar o avião com ela. No dia da partida, sentiu-se tão mal que nem ao aeroporto conseguiu ir. Pediu o retrato de ambos que ficava na estante da sala íntima e segurou-o o mais firme que pôde, até que a enfermeira o convenceu a deixá-lo sobre o criado mudo do seu lado. Olhava-o todo dia e imaginava que a esposa estava em casa, pronta a vir assim que a chamasse. O tempo corria, porém. Nenhuma perspectiva, por ora, de que o tratamento estivesse prestes a concluir e a liberá-la para o regresso ao lar. Por mais que o amor nutrisse a esperança, pesava muito a tristeza da separação. Todo dia, comunicavam-se pelos meios disponíveis na internet. Não obstante, inexiste tecnologia suficiente para superar o distanciamento físico e a absoluta necessidade da proximidade pessoal, do contato afetivo. O homem sofria a dor da momentânea separação mais do que as ocasionadas por seu mal incurável. Uma tarde, chegam más notícias. O tratamento parou de surtir efeito. O filho, de natural contido, não resistiu às lágrimas para dar a entender que deveriam preparar-se para o pior. Sem saber o que responder, o marido pediu licença para interromper a chamada e pensar consigo mesmo. Pensou e 164