LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019
O sujeito possuído
Luís Laércio Gerônimo Pereira
Pão de Açúcar/AL
Na cidade de nome Amâncio, situada num cantinho do Nordeste brasileiro,
vivia um sujeito, muito estranho, pouco comunicativo e avesso a interação social,
e essas atitudes do sujeito, deixava a comunidade, bastante curiosa. Como
ninguém sabia da sua procedência e nem identidade, as pessoas logo,
começaram a usar de vários pronomes, para denominar o sujeito. De fato, era
muito difícil de alguém conversar com ele, devido ao modo ascético e essênio,
que levava. De tanto ser de difícil acesso, deram-lhe o nome de sujeito oculto,
por justamente não saberem do que se tratava. Quando alguém tinha a sorte de
encontrar com ele e lhe perguntava por seu nome, ele se identificava, como: “Eu
sou alguém ou algo de quem ou do que se fala”, respondia o estranho e essa
resposta, causava um desconforto e tamanha estranheza nas pessoas. Certo dia,
a pedido de populares, que acreditavam que o tal sujeito, estivesse composto ou
possuído, por entidades desconhecidas, apelaram para um líder espiritual, local,
que decidiu ir pessoalmente á procura desse sujeito. Porém a insuficiência de
informações, fez com que o líder espiritualista, chegasse a conclusão, que a
análise, estava mais pra um sujeito indeterminado. Entretanto, motivado pela
animação popular, o guia espiritual, prosseguiu. Quando o avistaram, a
vizinhança, apesar de pouco saber sobre o sujeito, no entanto, insistiam em
adjetivá-lo; uns o qualificava de estranho, sisudo, doente; outros de inteligente,
sábio e até simpático. No entanto, o espiritualista, resolveu, pôr em prática o
emprego da interrogação: “ Meu filho, quem é você, como se chama”? , disse a
voz da inquisição; o sujeito respondeu: “Eu sou alguém ou algo de quem ou do
que se fala; sou um e sou muitos , ao mesmo tempo”! respondeu o sujeito. O
líder espiritual, entrou em transe e ficou surpreso, com ar de exclamação; então
em tom de exorcismo, bradou: “Em nome da autoridade, a qual represento, diga
o seu nome”! O sujeito, bem tranquilo, então respondeu: “Chamam-me de
simples, composto, oculto ou desinencial, elíptico, inexistente, determinado e
indeterminado, uma legião”. O líder espiritual, ao avaliar a situação, convenceu-
se de que se tratava de uma possessão gramatical e acalmou a população,
justificando, que não havia naquele diálogo, nenhuma concordância, que
necessitasse de cuidados religiosos, então abriu o verbo e disse: “Precisamos de
uma conjunção de ideias, para chegarmos ao nosso objeto, de forma direta e
reintegrar esse nosso irmão a uma vida gramatical em comunhão com a
comunidade; deixemo-nos em paz”; enumerou o emissário espiritual. Então,
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