LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019
é necessário vencer muitos quilômetros de pensamentos, medos e ideias que
surgem na cabeça do corredor durante uma prova.
Alcança os postos de água. Outro agito, pessoas se espremendo para
pegar um copo de água, metade é para jogar na cabeça e aliviar a temperatura,
a outra metade para beber. Após conseguir beber uns goles de água, o retorno ao
silêncio e à respiração. Arrependimento, dores, uma vida de imagens passam
pela sua mente. “Acho que não farei mais isso... não vou aguentar... essa é a
mais difícil...” Mas não desiste.
Corre, pé após pé, metro após metro. O cansaço chega, fica difícil
controlar a respiração, a roupa está encharcada de suor e água, uma subida
acaba com o restante do folego. Olha adiante e o que vê é uma ladeira sem fim
coberta de pessoas correndo, ao mesmo tempo colorido e desesperador.
Quase no final da ladeira, quando o pulmão já não consegue puxar a
quantidade de ar que o corpo pede, ele começa a pensar outra vez que não devia
ter ido, aceitou o desafio sem saber se seria capaz. Pensa que deveria ter
treinado mais, se dedicado com mais afinco.
Sua mente viaja até lugares mais confortáveis para tentar aliviar o
sofrimento, então um ruído distante o chama para a realidade, uma música, uma
pessoa falando. É o locutor! Está chegando!
Ele corre mais rápido, sabe que agora falta pouco. Corre, acelera o
passo, respira fundo e vê logo a frente o pórtico da chegada. Todo o cansaço se
desfaz e as dores somem. Junto com os outros corredores, dá o sprint final e de
braços abertos conclui a prova.
Os amigos que já chegaram vêm ao seu encontro para festejar, abraços
suados são correspondidos, aguardam aqueles que estão vindo a seguir e todos
satisfeitos por terem concluído a corrida comemoram com risadas e piadas.
Segurando a medalha na boca, tira muitas fotos e junto com os
colegas começa a programar a próxima.
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