LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019
Uma fileira de caixas de plástico com portas está acomodada em uma
rua, há os conhecidos desenhos de bonequinhos e bonequinhos com saia,
identificando os banheiros. Filas enormes de atletas aguardando a sua vez de dar
uma última esvaziada no tanque antes de começar a correr. Quando consegue
entrar no banheiro, o que quase é esvaziado é o estomago, pois o cheiro e o
visual internos das caixas é algo parecido com um filme de guerra onde alguém
esta torturando um outro alguém. Praticamente impossível respirar e ficar com
os olhos abertos para tamanha imundice! Mas as necessidades fisiológicas devem
ser atendidas, portanto, ele contribui para deixar o banheiro químico um pouco
mais sujo do que estava quando entrou.
Enquanto está trancado na casinha tentando eliminar qualquer peso
desnecessário, ouve o locutor anunciar a largada do pelotão de elite, ou seja os
profissionais. Um alvoroço do lado de fora o deixa desesperado e ansioso, sabe
que tem apenas alguns minutos para se livrar da sujeira e ir até sua posição de
largada. Limpa o serviço de qualquer jeito e sai correndo da cabine, respirando o
máximo de ar que consegue, pois até então estava no modo econômico para
evitar desmaiar.
Corre para a largada onde se acomoda entre o amontoado de pessoas
aguardando a hora. A ansiedade aumenta, batimentos cardíacos altos, pernas
inquietas. Olha o relógio pela enésima vez, até que, como uma voz libertadora o
locutor anuncia a largada.
Um mar de gente começa a correr, de início todos juntos espremidos,
exceto aqueles que conseguiram ficar logo atrás do bloco da elite, assim tiveram
mais espaço. Aos poucos o aglomerado vai dispersando, em quinhentos metros é
possível desenvolver a velocidade adequada, cada um tem a sua. Os primeiros
quilômetros são agradáveis, pessoas acenando, muita gente assistindo e
torcendo, bandeiras de times,
de cidades e das academias balançam como
incentivo, mas na metade do segundo quilômetro tudo isso acaba.
Agora o que se ouve é o ruído dos tênis de corrida golpeando o asfalto e
sua própria respiração. O que era festa e movimento, se transforma em solidão,
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