Revista LiteraLivre 15ª edição | Page 81

LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019 Uma fileira de caixas de plástico com portas está acomodada em uma rua, há os conhecidos desenhos de bonequinhos e bonequinhos com saia, identificando os banheiros. Filas enormes de atletas aguardando a sua vez de dar uma última esvaziada no tanque antes de começar a correr. Quando consegue entrar no banheiro, o que quase é esvaziado é o estomago, pois o cheiro e o visual internos das caixas é algo parecido com um filme de guerra onde alguém esta torturando um outro alguém. Praticamente impossível respirar e ficar com os olhos abertos para tamanha imundice! Mas as necessidades fisiológicas devem ser atendidas, portanto, ele contribui para deixar o banheiro químico um pouco mais sujo do que estava quando entrou. Enquanto está trancado na casinha tentando eliminar qualquer peso desnecessário, ouve o locutor anunciar a largada do pelotão de elite, ou seja os profissionais. Um alvoroço do lado de fora o deixa desesperado e ansioso, sabe que tem apenas alguns minutos para se livrar da sujeira e ir até sua posição de largada. Limpa o serviço de qualquer jeito e sai correndo da cabine, respirando o máximo de ar que consegue, pois até então estava no modo econômico para evitar desmaiar. Corre para a largada onde se acomoda entre o amontoado de pessoas aguardando a hora. A ansiedade aumenta, batimentos cardíacos altos, pernas inquietas. Olha o relógio pela enésima vez, até que, como uma voz libertadora o locutor anuncia a largada. Um mar de gente começa a correr, de início todos juntos espremidos, exceto aqueles que conseguiram ficar logo atrás do bloco da elite, assim tiveram mais espaço. Aos poucos o aglomerado vai dispersando, em quinhentos metros é possível desenvolver a velocidade adequada, cada um tem a sua. Os primeiros quilômetros são agradáveis, pessoas acenando, muita gente assistindo e torcendo, bandeiras de times, de cidades e das academias balançam como incentivo, mas na metade do segundo quilômetro tudo isso acaba. Agora o que se ouve é o ruído dos tênis de corrida golpeando o asfalto e sua própria respiração. O que era festa e movimento, se transforma em solidão, 78