LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019
Conto de Vida
Iris Aparecida Franco
Diadema/SP
— (…) fim.
Aquele fim seria um dos tantos começos na vida daquela jovem pululante
de cabelos mais rebeldes que sua essência. A cama gemia e reclamava das dores
impingidas ao gradil, mas o êxtase era tão grande que dificilmente a pequena
jovem daria ouvidos aos gritos dos seres animados ou inanimados. E, naquele
quarto, cujas paredes rachadas deduravam que fora branco, verde, rosa e agora
azul, ela dizia:
— Quando crescer, vou ser igual à Branca de Neve! — vestindo um pijama
tão rasgado que o tempo tivera dó de estragar o resto, berrava a frase com
ênfase.
— Filha, a verdadeira heroína dessa história é a bruxa, não a princesa. Ela
estava o tempo todo tentando alertar do verdadeiro perigo. — a mãe passa a
mão no ombro da filha para deitá-la na cama.
Meio ressabiada com a fala da mãe, meio sonolenta, a menina se afoga nos
sonhos com o único pensamento de que o bem sempre vence o mal, uma
verdade insofismável.
A menina era uma mãe zelosa com as bonecas, tão cuidadosa que
sacrificou as férias trabalhando por um real a semana para comprar panelas e um
fogão com o escopo de alimentar as filhas. Uma introdução dos pais ao
capitalismo combinada com o sacrifício que apenas uma mãe de verdade faria
pelas filhas de mentira.
Assistia novelas, filmes de romance, desenhos e ouvia histórias de
princesa. Acreditava naquela época que aos 18 anos seria modelo, médica,
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