Revista LiteraLivre 15ª edição | Page 74

LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019 Conto de Vida Iris Aparecida Franco Diadema/SP — (…) fim. Aquele fim seria um dos tantos começos na vida daquela jovem pululante de cabelos mais rebeldes que sua essência. A cama gemia e reclamava das dores impingidas ao gradil, mas o êxtase era tão grande que dificilmente a pequena jovem daria ouvidos aos gritos dos seres animados ou inanimados. E, naquele quarto, cujas paredes rachadas deduravam que fora branco, verde, rosa e agora azul, ela dizia: — Quando crescer, vou ser igual à Branca de Neve! — vestindo um pijama tão rasgado que o tempo tivera dó de estragar o resto, berrava a frase com ênfase. — Filha, a verdadeira heroína dessa história é a bruxa, não a princesa. Ela estava o tempo todo tentando alertar do verdadeiro perigo. — a mãe passa a mão no ombro da filha para deitá-la na cama. Meio ressabiada com a fala da mãe, meio sonolenta, a menina se afoga nos sonhos com o único pensamento de que o bem sempre vence o mal, uma verdade insofismável. A menina era uma mãe zelosa com as bonecas, tão cuidadosa que sacrificou as férias trabalhando por um real a semana para comprar panelas e um fogão com o escopo de alimentar as filhas. Uma introdução dos pais ao capitalismo combinada com o sacrifício que apenas uma mãe de verdade faria pelas filhas de mentira. Assistia novelas, filmes de romance, desenhos e ouvia histórias de princesa. Acreditava naquela época que aos 18 anos seria modelo, médica, 71