LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019
Logo após o almoço, os pais ligam lembrando o quanto todos tem orgulho dele,
mas acham que deve arrumar uma namorada e se casar de novo, como
consegue viver sozinho assim, se perguntam. Garante que está tudo bem e
combina de visitá-los no próximo final de semana. Os irmãos ligam durante a
tarde, a filha que vive num intercâmbio nos Estados Unidos manda mensagem no
whatsApp porque não custa nada, mas enfatiza o quanto ama o pai. Os colegas
dos outros setores que abriram o e-mail dos aniversariantes do dia também vão
felicitá-lo, assim como os amigos do grupo de ciclistas. A ex-mulher manda
parabéns pelo Facebook.
Ainda no meio da tarde chega o livro que está esperando e havia encomendando
há semanas. Que feliz coincidência, comemora quando avisam que a obra tinha
chegado. Agradece o sincronismo do universo e agradece.
Após o expediente, caminha algumas quadras pelo centro da cidade, observa as
pessoas com o seu andar apressado e olhares cansados. Senta numa mesa ao ar
livre do seu boteco preferido e pede um xis vegetariano com porção extra de
batatas fritas. Saboreia o prato com calma e considera aquele momento mais um
presente, não se permite ter o sentimento de culpa por ter saído da dieta. Na
hora de pagar pergunta ao dono do bar, que já era seu conhecido, se para
aniversariante havia desconto. Não tem, mas ganha uma barra de chocolate,
abraços de todos os garçons e um “Parabéns para você” em coro com os
desconhecidos que estão no bar.
Já em casa, abre um vinho chileno, escuta músicas do Gonzaguinha, e fica um
tempo sentado na sacada, observando a cidade e pensando nos caminhos de sua
vida até o momento em que estava e conclui que tudo havia ocorrido do jeito que
deveria ser. Um pouco antes de dormir, serve ração fresca para o Osho.
Já na cama, coloca o relógio para despertar no horário de sempre na manhã
seguinte. Se recorda das últimas 24 horas e pega no sono satisfeito. Foi um dia
especial, como todos os outros.
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