LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019
O (L)ego
Erick Bernardes
São Gonçalo/RJ
Vamos brincar de deus! Convoco você meu amigo a esta empreitada.
Vamos brincar de Zeus! Poderosa divindade da matriz ocidental.
Nesta brincadeira façamos um trato, ou melhor, um pacto, entre mim e
você; narrador e leitor.
Sou o personagem Ego e não vivo longe do centro. Detesto periferias,
gosto mesmo de cada coisa em seu lugar, tudo certinho, separadinho, só penso
em mim mesmo. Sou um pequeno construtor em processo lúdico seguindo a
tradição. A proposta é a seguinte: você imagina milhares de blocos em minhas
mãos, quadradinhos, a criarem um mundo de faz de contas, como se fossem
pequenos dados lançados ao léu por um jogador de roletas qualquer.
O jogador canta o lance de dados, a ordem. O Ego, que sou Eu, regula a
jogada, as posições das peças para você empilhar. Aí te vejo embaralhar tudo
leitor, trapacear para ganhar o inesperado presente. E ganha, não o presente
intacto, mas a ideia, a experiência de ser e estar ali. Nunca ouviu o senso comum
repetir que o importante é participar? Pois é, adoro o que todo mundo diz.
Com as ideias dos outros brinquei de deus pela primeira vez. Fiz uma
cidade, dei registro, me transformaram em Deus. Se acredita que no princípio era
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