LiteraLivre Vl. 3 - nº 14 – Mar./Abr. de 2019
A Prenda do Menino Jesus
Jeracina Gonçalves
Barcelos, Braga, Portugal
Elegantemente dispostos, laços e luzes e outros ornamentos festivos, próprios
da época de Paz e Amor, que decorre e se festeja, entrelaçados em harmonia
perfeita, criam um ambiente alegre, pacífico, distinto e acolhedor, que aquece o
coração e torna o ambiente da sala, nesta noite fria do dia 24 de dezembro,
particularmente agradável e aconchegante, completado pela Árvore de Natal
divinamente decorada com ornamentos dourados e luzinhas piscantes,
multicoloridas, a brilhar a um canto junto da lareira, onde crepita um enorme
toro de madeira de castanho. Sobre a grande mesa de carvalho, ao centro da
sala, estende-se uma lindíssima toalha de linho, bordada com motivos
característicos desta quadra festiva e, sobre ela, ao centro, um bonito arranjo,
que Teresa fez com muito carinho, enfeita esta mesa de Consoada, à volta qual
irão sentar-se, dentro em pouco, os seus entes mais queridos. Os pratos são de
fina porcelana Vista Alegre e estão cuidadosamente dispostos sobre a toalha e,
ao lado destes, cintilam belos copos de cristal, especiais para estas ocasiões
festivas; os talheres são de prata, e os guardanapos, bordados, iguais à toalha,
completam a mesa festiva.
Teresa esmerou-se na ornamentação da casa e na preparação da mesa de
Consoada, e fez desta sala um santuário de luz, cor e Amor. Pôs no seu arranjo
todo o carinho que sempre se põe nas coisas que fazemos para as pessoas
amadas: as duas filhas, os netos e os genros virão Consoar consigo nesta noite
especial, comemorativa do nascimento de Jesus; noite dedicada a família.
Excedera-se na preparação da mesa e da casa para os receber. Quer que tudo
esteja perfeito; mas o seu coração sangra. E o seu pensamento afasta-se dali por
momentos e parte à procura desse filho, que partiu há tanto tempo e nunca mais
deu qualquer notícia que acalmasse o seu coração rasgado pela dor. Imagina-o
em alguma parte desse mundo afora e vê-o no rosto de qualquer arrumador de
carros que dela se aproxime.
Não sabe onde está. Não sabe se é vivo ou se é morto. Procura-o naquelas
vielas de Lisboa, tantas vezes focadas pela televisão, na ânsia de reconhecê-lo no
rosto de algum dos desgraçados que por lá aparecem.
“Que é feito de ti, meu filho? Onde estás? Terás pelo menos um prato de sopa
quente para comeres nesta Noite de Natal?”- Verbaliza surdamente.
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