LiteraLivre Vl. 3 - nº 13 – Jan/Fev. de 2019
Insulamento
Alessandra Barcelar
São Paulo/SP
Aquela senhora sentada na calçada todos conhecem, apesar de lhe negarem o
olhar. Todos da cidade já foram abordados pela velha, que pedia esmola com
uma cara de choro. Mesmo assim, ninguém sabia seu nome ou sequer conhecia a
história que antecede aquela situação dramática a qual se acomodara. Uma
mulher sem futuro e sem passado. Alguns diziam que ela era uma pessoa normal
e que desistiu da vida que tinha, se rebaixando ao cotidiano humilhante. As
noites na praça eram regidas por uma pequena quantidade de iluminação
pública, que se transformava em atrativo para casais de namorados e más
companhias. Para aquela senhora, apenas um cobertor velho a protegia daquele
mundo sombrio.
Ela dormia agarrada a uma garrafa. Ninguém sabe ao certo o que sonhava.
Ninguém conhecia sua perspectiva de vida. Era apenas ela, vivendo sua vida
solitária em um universo que não era o seu. Se não acordasse na manhã
seguinte, sabe-se lá quanto tempo demoraria até perceberem.
Aquela tosse rouca coçando a garganta causava desconforto. Ouviu passos de
alguém se aproximando, mas não se sentiu assustada. Na verdade, o som
produzido pelo salto despertou curiosidade. Aquela praça não era um local
indicado para passeios noturnos.
A velha demonstrou espanto ao perceber quem se aproximava e tentou disfarçar
a emoção contida naquele encontro. Sentou-se ainda segurando a garrafa. O
olhar buscava sempre o chão, como se sentisse dor ao enfrentar os olhos da
moça que se sentava ao seu lado:
– Trouxe umas roupas – disse a moça, deixando uma sacola no chão, entre as
duas.
A senhora puxou a doação para próximo dos pés e agradeceu, desconcertada. As
duas ficaram em silêncio, sentadas no banco da praça mal iluminada.
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