LiteraLivre Vl. 3 - nº 13 – Jan/Fev. de 2019
História de Hospital
Gracielle Torres Azevedo
Maceió/AL
Era manhã de verão e o menino que, na noite anterior, trajava terno negro e
gravata borboleta cinza para ser padrinho de casamento ao lado de sua mãe,
agora se encantava.
A noite havia sido longa. O menino contente dançava e cantava as músicas do
momento. Convidou as tias e primas para uma dança e era o famoso pé-de-
valsa.
O menino de aparelho nos dentes e sorriso largo resolvera acordar mais cedo,
após a noite da festa e pegar a moto do seu pai. Talvez para ir ao supermercado
fazer compras para o desjejum, talvez para passar na porta da menina que lhe
acelerava o coração ou talvez para chamar a atenção dos colegas na pracinha da
cidade.
O motivo que o fizera pegar a moto será sempre desconhecido e aquela manhã
de verão poderia não ter existido, mas existiu e mudou o curso da história.
O céu, que outrora era azul e tinha nuvens radiantes, rapidamente tomou tons de
cinza quando um boi atravessou a pista e tombou na moto.
A vida ficou nublada e escura para uma mãe calorosa que acabara de acordar
após a festa de casamento de sua prima, da qual havia sido madrinha ao lado do
seu menino.
Após aquela manhã ela jamais viu seu filho como antes.
O menino expressivo, após um tempo desacordado na Uti, com respiração
artificial, havia perdido os movimentos e a consciência. Já não respondia aos
chamados e nem direcionava o olhar.
Roubaram seus 15 anos.
Arrancaram a fórceps aquela juventude e deceparam o futuro do menino
dançarino.
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