LiteraLivre Vl. 3 - nº 13 – Jan/Fev. de 2019
A tinta nas paredes já há muito desbotou. O piso solto já nos corta os pés
quando andamos rápido. É só silêncio. Silêncio histérico e inerte. Silêncio sem
cheiro... ou cor... ou sabor... apenas silêncio. Como nunca antes se viu. Nem o ar
mais parece existir, mesmo que ainda se respire. Ou não... Quem se importa?
Silêncio! Silêncio, maldito capataz de terno e gravata! Silêncio, sujeitinho de
lenço no pescoço sob a barba! A porta ainda estava aberta quando eu aqui entrei.
Mas eu a fechei e joguei a chave fora. E coloquei no caminho esses barris de
ferro onde escondi minha individualidade.
E quando por mais uma vez nós olhamos pela janela, o café, o cigarro, as
contas e os problemas nos fazem sorrir.... antes e depois de chorar; é a única
coisa verdadeiramente real... e pela a qual vale a pena morrer heroicamente.
Fodam-se os pandas! O homem comum. O homem iletrado. O analfabeto
operador de máquinas pesadas. O velho com nicotina nos dedos. Aquele que
conta as moedas para uma segunda e última cerveja e sua senhora, que por
mais última vez antes de dormir, reza seu terço quebradiço ajoelhada frente a
cama; os verdadeiros protagonistas do mundo são sujeitos invisíveis.
Que não recebem bom dia dos homens com soluções ou aceitam cigarros
das mãos que os criaram; as mesmas mãos ensanguentadas que sorriem e
exigem que você grite por liberdade.
Fodam-se os pandas!
Nada mais importa enquanto caminhamos cantando rumo ao abismo da
coletividade.
Nada mais faz sentido quando nos tornamos essa massa amorfa e fétida
chamada sociedade.
66