LiteraLivre Vl. 3 - nº 13 – Jan/Fev. de 2019
Espelhado
David Leite
Jandira/SP
Uma pequena choupana, solitária, em um acampado verdejado.
Mais próximo
Na janela, de folhas abertas lado a lado, tremulava a cortina para o lado de fora,
dançando com o vento.
Mais próximo
De dentro se via a penteadeira, com um grande espelho com moldura de
madeira.
Mais próximo
Sobre a penteadeira, uma caixa de música. Finamente trabalhada, com filigranas
douradas, gemas cintilantes, tão suntuosas quanto deveriam ser os tesouros ali
guardados. E sobre o tampo espelhado, girava, em harmonia à melodia
mecânica, a pequena bailarina perolada. Nas lantejoulas em seu tutu refletiam as
luzes do sol, rebrilhavam nos espelhos e geravam miríades de lumes em todo o
ambiente, como fogos de artifício.
Apreciando aquele resplendor hipnótico, o pequeno rato esquecera-se do queijo,
do gato, do dono do gato e todo o motivo de sua excursão fora de sua toca. O
caleidoscópio de luzes, a melodia de sineta de cristal, o bailar suave da boneca,
tudo era mais importante que sua fome no momento. Exceto, talvez, a sugestão
de perigo que dois brilhos esverdeados e paralelos lhe suscitaram ao se
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