LiteraLivre Vl. 3 - nº 13 – Jan/Fev. de 2019
maior palavrão da língua portuguesa era “inconstitucionalissimamente”, com 27
letras. Hoje, constato que o palavrão que me enchia de orgulho era apenas um
palavrinho,
como
pirilau
de
menino.
O
do
pai
chama-se
Paraclorobenzilpirrolidinonetilbenzimidazol, tem 43 letras e é uma substância
farmacêutica.
O
do
vizinho
africano
chama-se
Pneumoultramicroscopicosilicovulcanoconiótico, tem 46 letras e significa
“portador de uma doença pulmonar aguda causada pela aspiração de cinzas
vulcânicas”.
O mundo destes palavrões é atroz. Embaraça qualquer estudante de
medicina,
mas,
sobretudo,
aterroriza
o
portador
da
doença
Hipopotomonstrosesquipedaliofobia, a qual — crueldade das crueldades — é a
“doença psicológica que se caracteriza pelo medo irracional de pronunciar
palavras grandes ou complicadas”. Imaginem o pânico do doente de ser inquirido
sobre a denominação da sua própria enfermidade!
Estes vocábulos escaganifobéticos parecem-me denunciar o pérfido
subterfúgio de arquitetar termos complicados, pela mera acoplagem, numa
mesma palavra, de outras muito mais curtas. Por esta técnica, também posso
autoqualificar-me
como
Homemextremamenteatraenteinteligentedivertido,
epíteto de que só não faço uso por abominar redundâncias.
A terceira aceção de “palavrão” é “expressão pomposa e empolada”. Não
me ocorre, por ora, qualquer exemplo ilustrativo. Locuções grandiloquentes e/ou
de sentido ininteligível são sempre de coartar em comunicações a grandes
auditórios, ainda que académicos. Por mim, cultivo o discurso despretensioso,
matizado apenas por vocábulos lhanos e percetíveis por todos.
Tenho dito!
http://vislumbresdamusa.blogspot.pt/
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