Revista LiteraLivre 13ª edição | Page 22

LiteraLivre Vl. 3 - nº 13 – Jan/Fev. de 2019 A mulher sou eu Penelope Jones Curitiba /PR O que é isso, cara! Tire a mão do meu corpo, dos meus seios, não te pertenço, nem de corpo, nem de alma. Não sou um grito desesperado de socorro, sou as minhas garras afiadas mirando tua jugular saltada. A ira é tua, a frieza é minha. Sou puta de quem desejo, sou perdida para quem amo. De resto não sou teu objeto. Sou frescor da manhã, não carrego marasmo de lagoa, sou mar aberto, indo e vindo em marés que me moldam, remoldam, refazem, modificam. Estou distante dos teus verbos estáticos, das tuas notas enfadonhas, da tua perversão de achar que tenho dono, dona ou o que valha. Sou isso mesmo. Fêmea em todos os pontos cardeais. E não me entrego aos pés de quem me subjuga. Tenho tara por homens que me carreguem no colo, que me tragam ao lado, que me deixe ser tudo isso que você é incapaz de ver. Feche a boca. Não ouse me cuspir. Ando flertando com a loucura, não me custa nada dizer que não sou mais acuada, nem aquela menina escondida dentro de roupas de piá. Não preciso do teu incenso, da tua benção, da tua aprovação. Você é meu verdugo preso. Agora a carrasca sou eu. E essa mulher está saindo de dentro da mulher que esconde a mulher que sou, feito aquelas bonecas russas. Só que hoje, cara, sou a menor matrioska nesse brinquedo maluco que me revela a cada pequenez deixada de lado. A mulher sou eu. 18