Revista LiteraLivre 13ª edição | Page 106

LiteraLivre Vl. 3 - nº 13 – Jan/Fev. de 2019 O elevador Marcelo Gaspar de Souza São José do Egito/PE Nice balançou a cabeça positivamente para o que sua visita falara. A chaleira apitou alto, como a maria-fumaça, avisando que está chegando à estação. - Aceita chá? - ela perguntou a pessoa na poltrona amarela, posicionada do lado do sofá azul marinho de dois lugares. - Claro! - devolveu com voz suave, de pernas cruzadas, curvara-se para frente, a fim de localizar Nice, na cozinha. Quatro sachês: dois para cada xícara; água fervida, borbulhava até deslizar para os recipientes de porcelana branca, com delicados desenhos de um jardim real. - Açúcar ou adoçante? - indagou a anfitriã. - Tomo puro mesmo - respondeu da sala, tragando um cigarro de filtro branco. Nice voltou com uma bandeja equilibrando duas xícaras que sopravam fortemente a fumaça vivaz, perdendo-se no ar. Sentou-se Nice. Olharam-se. Sorriram. Conversaram sobre temas diversos, coisas que tinham em comum: filosofia, arte, teatro, principalmente sobre solidão. Gostavam de falar, como se tudo mais não existisse. O tempo pairava ao lado, saboreando a conversa, os olhares, o movimento de suas bocas, os gestos. - Preciso ir. Vou buscar minha avó, ela ficará com mamãe neste final de semana. Elas se adoram - completou a visita. - Tudo bem - respondeu Nice - espero te ver novamente, um dia... , engasgou, segurando a porta. Um beijo. Um toque leve de lábios. Sorrisos pálidos. Olhares perdidos. - Então adeus - disse Nice, recebendo um abraço forte como resposta. Lágrimas. O elevador chegou, abriu a porta, ordenando que a visita fosse logo embora. - Verônica?!?! - gritou Nice, na esperança do elevador se compadecer e não seguir seu destino. Um fechar eterno. Sem volta. https://klorca.blogspot.com/ 102