Revista LiteraLivre 12ª edição | Page 82

LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018 melhorar a nossa situação. Todos nós fazemos de conta que acreditamos nisso e por isso ficamos bons. E vocês fazem de conta que curaram a gente. Há, há, há. Não é mesmo uma boa piada? Tô sendo infame? É, sei lá. Acho que perdi o senso de proporção. Foi quando eu conheci uma garota. Bonita, meiga, uma graça. Ficou grávida, mandei tirar. Tirou, a contragosto, e, arrependido, chutei ela. Deixei na rua da amargura só prá ter o gostinho de fazer alguém sofrer. Pensei nisso, na época,mas não dei a mínima. Tá ficando interessante, não é mesmo, dr.? Espera que o que tá prá vir é melhor. Depois entrei nessa de tóxico. Barbaridade, que loucura! A gente vende até a alma prá conseguir um pouco da coisa na hora do sufoco. Tem uns momentos de alegria, de euforia, mas depois é barra. Um desespero atrás do outro. Não sei nem como é que estou aqui, frente a frente com o senhor, contando essas coisas. Vai ver é o destino. Ainda não chegou a minha hora. O senhor não acredita em destino? Nessa sequência de fatos que começam na hora em que a gente nasce e termina quando a gente morre? Pois deveria. No meu destino está escrito que eu ainda vou ser feliz. Foi profecia de uma cartomante. O quê? Tá terminando a minha hora? Semana que vem tem mais? Venha sim doutor. Desculpe pelas minhas brincadeiras. Só mais uma coisa. Daria prá me arrumar um cigarrinho? É, esse vício... 76