LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018
melhorar a nossa situação. Todos nós fazemos de conta que acreditamos nisso e
por isso ficamos bons. E vocês fazem de conta que curaram a gente.
Há, há, há. Não é mesmo uma boa piada?
Tô sendo infame?
É, sei lá. Acho que perdi o senso de proporção.
Foi quando eu conheci uma garota. Bonita, meiga, uma graça.
Ficou grávida, mandei tirar. Tirou, a contragosto, e, arrependido, chutei ela.
Deixei na rua da amargura só prá ter o gostinho de fazer alguém sofrer. Pensei
nisso, na época,mas não dei a mínima.
Tá ficando interessante, não é mesmo, dr.? Espera que o que tá prá vir é
melhor.
Depois entrei nessa de tóxico. Barbaridade, que loucura! A gente vende até
a alma prá conseguir um pouco da coisa na hora do sufoco. Tem uns momentos
de alegria, de euforia, mas depois é barra. Um desespero atrás do outro. Não sei
nem como é que estou aqui, frente a frente com o senhor, contando essas coisas.
Vai ver é o destino. Ainda não chegou a minha hora.
O senhor não acredita em destino? Nessa sequência de fatos que começam
na hora em que a gente nasce e termina quando a gente morre? Pois deveria. No
meu destino está escrito que eu ainda vou ser feliz. Foi profecia de uma
cartomante.
O quê? Tá terminando a minha hora? Semana que vem tem mais? Venha
sim doutor. Desculpe pelas minhas brincadeiras. Só mais uma coisa. Daria prá
me arrumar um cigarrinho? É, esse vício...
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