Revista LiteraLivre 12ª edição | Page 71

LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018 É Fácil. Em Brasília Waleska Barbosa Brasília/DF É fácil a gente delimitar contornos em Brasília. Digo, ficar tão desenhado, delineado por giz no chão, como um corpo morto em cena de crime, que nenhum apagador será capaz de modificar o que se vê do que nós vemos e por consequência nos tornamos. Entrar para não mais sair do quadradinho. Desenxergar tudo o que não for céu, sol, secura no nariz, barro vermelho, sangue nos lábios, prédios brancos, vidros espelhados de matar passarinho. Mulher deixando pedaço de salto em calçadas alquebradas. É fácil, em Brasília. É fácil a gente esquecer que o mundo existe, em Brasília. Aqui se pode ficar restrito a eles, dablius, tesouras, alicates e eixos, num piscar de olhos. Logo se perde a noção de ruas, avenidas, centros, multidões, gritos de pregoeiros, sandálias baratas e desgastadas, mancha d’água nas axilas. Pele queimada de andanças desavisadas. A mão estendida por uma moeda. Ou por cachaça, que não se vai mentir. É fácil acreditar que a vida é subir e descer escadas. Torcer por elevadores vazios e que não quebrem no meio do caminho. Do andar. Do térreo ao quinto. Apenas. Viagem curta. Fácil fazê-la, em Brasília. Paisagens de perfumes franceses variados e unidos em um único tom forte e apertado na segunda-feira da ressaca. Em que tudo o que se desejaria era uma Brasília livre de cheiros. Parada como a roda-gigante do Nicolândia, quando fica suspensa lá no alto deixando que nossos olhos entendam as asas de Brasília. Me dei conta que isso de entender 65