LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018
Bibliobrinquedoteca
Hilário Francisconi
Niterói/RJ
Não
me
ressinto
de
ver
transformado
o
meu
escritório
em
uma
bibliobrinquedoteca.
Antes da chegada de meu neto, com todas as tralhas para sua diversão a
que tem direito, quem preenchia o espaço do meu canto reservado a ler e
escrever eram os gênios motivadores da literatura universal. Agora, não. A
estante
encravada
na
parede
mistura
em
suas
divisórias,
com
notório
descompasso, todos os livros meus e todos os brinquedos dele, com rodinhas e
sem rodinhas, com botões que acendem, piscam, giram, tocam suas musiquetas,
vibram, não vibram…
Espremido em um cantinho da quinta prateleira, Lewis Carroll reclamou que
o seu Alice no País das Maravilhas perdia de longe para a Mesinha Encantada que
Bernardo ganhara no primeiro aniversário. Eu não liguei muito para esse
comentário, embora tivesse ficado um pouco chateado com a reclamação. Freud,
no quarto andar, tomou para ele as dores e pediu-me compreensão, que isso era
um problema sexual mal resolvido de Lewis. Mas Jung, embora afastado do pai
da Psicanálise por duas fileiras de carrinhos de corrida, entrou na conversa e
sentenciou que Freud perdera há muito a sua libido, e que podia ajudá-lo, mas aí
resolvi deixar os dois naquela briga infrutífera e cuidar do meu joelho esquerdo
depois de escorregar no patinho quém-quém que estava no meio do caminho. Foi
o bastante para que Drummond, de posse de um telefoninho com mais de mil
recursos, ligasse-me da cobertura para dizer que era plágio... “Plágio?”. “É. Esse
‘tinha um patinho quém-quém’ no meio do caminho é plágio de ‘tinha uma pedra
no meio do caminho”.
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