LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018
A Irmandade do Medo
Gerson Machado de Avillez
Rio de Janeiro/RJ
Aquele artista desafiava a ciência. Cego de nascença pintava obras
magistrais de coisas o qual nunca vira ou soube explicar. Contrariando todo senso
comum de uma possível 'tabula rasa' naturalmente que dúvidas foram
levantadas, mas o homem que vivia recluso era temerário ao falar sobre a
possibilidade de possuir visão, pois afirmava em seu quase transe ao realizar as
pinturas que seus olhos lhe matariam de medo quase visse. "Uso meu terceiro
olho", afirmava. De fato, costumava afirmar que por isto optava por realizar suas
pinturas a sós com seu ajudante, pois mesmos os gatos algo medonho
afugentava. Naturalmente que o cientista astronômico John Octavios desconfiou
das alegações, e acreditando se tratar de um charlatão que se apropriava de
algum gênio em segredo o desafiou provar seu potencial talento impossível. E a
contragosto o homem aceitou afirmando que o cientista em questão estaria por
sua própria conta e sorte. Exames constataram a cegueira de Grimstone, para a
consternação geral.
Obviamente que John Octavios ironizou isto até o dia que resolveu
acompanhar o pintor Jones Grimstone em seu atelier na sua casa no lago. O
problema é o que aconteceu, doravante, Octavios lançou afirmações difusas num
telefonema antes de surtar e os especialistas considerando um caso de psicose
internou o proeminente cientista e cético. O homem fora buscado na casa de
Jones trêmulo a vociferar num rubor e palidez hedionda a contemplar mesmo
para os mais próximos um estado nunca observado para um homem
normalmente tão comedido. As palavras balbuciadas por Octavios eram
desencontradas e desconexas, afirmava a todo instante que algo diabólico iria
acabar com ele e que não era um mero cão e Jones não era um rato, mas que
todos deveriam abandonar seus sonhos, os relacionamentos senão o inferno
emergiria.
Obviamente que os relatos envolvendo todo incidente necessitaram de uma
melhor apuração por parte de seus amigos cientistas que impressionados pelo
caso não cessaram até ir ter com o pintor Jones Grimstone. O homem, que tinha
alguns aparatos considerados supersticiosos pela liga de céticos que o abordou,
demonstrava que Jones estava entregue a ideias arcaicas de magia afim de
exaltar sua glândula pineal para que com o terceiro olho fintasse uma quinta
dimensão.
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