LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018
Mas sua família aguardava em casa o retorno do salvador.
No caminho de sua casa, envergonhado ele ia com a mão vazia;
Pensava como saciar a fome de sua família por mais um dia;
E quem primeiro acabaria? Aquela seca terrível ou sua família?
E matutava a caminho de casa por que a vida era tanta agonia?
Chegando em casa foi avisar a mulher a decisão tomada:
- Junta os trem e embrulha a criança vamo simbora desta terra amaldiçoada;
- Vamos descer pra cidade grande onde deve haver comida e água farta.
E sua mulher que na sala encontrava estirada;
Com o queixo magro afundado na mão crispada;
Respondeu a Zé sem choro e lágrimas com voz pausada:
- Já não adianta mais nada, Joaquim morreu pedindo água.
Zé da Luz estremeceu sob a violência do golpe que lhe dissipou;
O ódio e a revolta da perda, uma força terrível lhe apossou;
No quarto sob colcha de retalhos seu filho morto encontrou;
Juntou os trapos do menino e com a colcha de retalho enrolou.
Com o corpo e a alma anestesiados de tanta dor;
Pegou seu filho nos braços chorando com muito rancor;
E como um trovão dando pro infinito foi tirar satisfação com o Criador:
—A gente reza missa, o povo sobe e desce em procissão;
A gente ajoelha no chão acascalhado pedindo perdão;
Por um mísero pecadinho que não vale uma migalha de pão;
Agora uma coisa desta, o Senhor num vê? Não tem Compaixão?
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