Revista LiteraLivre 12ª edição | Page 184

LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018 Mas sua família aguardava em casa o retorno do salvador. No caminho de sua casa, envergonhado ele ia com a mão vazia; Pensava como saciar a fome de sua família por mais um dia; E quem primeiro acabaria? Aquela seca terrível ou sua família? E matutava a caminho de casa por que a vida era tanta agonia? Chegando em casa foi avisar a mulher a decisão tomada: - Junta os trem e embrulha a criança vamo simbora desta terra amaldiçoada; - Vamos descer pra cidade grande onde deve haver comida e água farta. E sua mulher que na sala encontrava estirada; Com o queixo magro afundado na mão crispada; Respondeu a Zé sem choro e lágrimas com voz pausada: - Já não adianta mais nada, Joaquim morreu pedindo água. Zé da Luz estremeceu sob a violência do golpe que lhe dissipou; O ódio e a revolta da perda, uma força terrível lhe apossou; No quarto sob colcha de retalhos seu filho morto encontrou; Juntou os trapos do menino e com a colcha de retalho enrolou. Com o corpo e a alma anestesiados de tanta dor; Pegou seu filho nos braços chorando com muito rancor; E como um trovão dando pro infinito foi tirar satisfação com o Criador: —A gente reza missa, o povo sobe e desce em procissão; A gente ajoelha no chão acascalhado pedindo perdão; Por um mísero pecadinho que não vale uma migalha de pão; Agora uma coisa desta, o Senhor num vê? Não tem Compaixão? 178