LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018
Zé da Luz e Deus na Terra do Sol
Eduardo Lima
Três Marias/MG
História de fome não é história que se conte;
Principalmente quando nos persegue tão longe;
É só tristeza e vergonha estampada na fronte.
Hoje conto a sofrida saga de um pobre cidadão;
Que saiu despedaçado daquele estorricado pedaço de chão;
Caminho da maioria que sangra todo dia por migalhas de pão;
Nas afiadas garras da mais protegida moderna escravidão.
Até então ele vivia feliz e satisfeito naquele sertão;
É verdade que era o solo mais seco daquela região;
De vez em quando ele praguejava aquela sequidão;
Mas logo a esperança voltava e ele achava a solução.
Do gado ele cuidava e plantava um pequeno roçado;
Dois terços do trabalho ele entregava ao dono do gado;
No final das tardes vermelhas, cansado, ele voltava do trabalho;
E a mulher na porta ele encontrava feliz com menino no braço.
Mas daquele ano em diante a seca foi feroz;
Abocanhou todo pingo d’água da nascente até a foz;
Ele achou que o fim tava bem próximo pra todos nós;
Mas era só o princípio do fim desta saga atroz.
Secara tudo que a vista alcança da vereda até a serra;
Foi aí que ele perdeu a esperança em seu povo e sua terra;
Em todo canto ele procurava água cavando até a pedra;
Mas nenhuma miserável gota brotava em sua gleba.
Desanimado ele sentou na pedra beira riacho seco e viu;
Todo aquele cenário de horror que o homem construiu;
Línguas de fogo suspensas ligando a terra ao céu anil;
E todo aquele cerrado imenso transformado em carvão e lucro vil.
Bateu nele uma depressão diante do espetáculo de horror;
Que sentiu, dentro do peito, seu coração endurecendo de dor;
Veio uma vontade danada de acabar com aquele filme de terror;
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