Revista LiteraLivre 12ª edição | Page 158

LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018 minha concentração a todo instante. Não sei o que mais me incomodava: se meu namoro conturbado, mas verdadeiro, ou se a falsa harmonia do casal vizinho. Cheguei da faculdade disposta a dormir profundamente, desligaria meu celular para não falar com meu namorado, nem com ninguém. Só queria dormir, esquecer momentaneamente meus problemas. Quando já estava na cama, com a luz apagada, ouço os vizinhos chegando, como sempre, cheios de risadinhas, de “benzinho” pra lá, de “amorzinho” pra cá. Ouço a porta da casa deles abrindo-se, observo pela janela que ele a carregava no colo naquele momento. Percebo a TV sendo ligada, certamente iriam ver algum filme. Há quanto tempo eu e meu namorado não assistíamos a um filme, não saíamos pra tomar sorvete, jantar fora? Meu ódio pelo casal cresce ainda mais. Decidi que isso não poderia mais continuar assim, eu precisava ter sossego para descansar, estudar, dormir. Peguei silenciosamente uma faca na cozinha, escondi dentro da blusa e saí. Quando percebi que estavam de costas para a porta, sentados no sofá, abraçados – como se fossem um casal perfeito – entrei e os esfaqueei com todo o meu ódio reprimido até aquele momento. Voltei para o meu quarto, apaguei a luz e pude, enfim, dormir em paz. https://www.facebook.com/clarice.assis.9 152