LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018
minha concentração a todo instante. Não sei o que mais me incomodava: se meu
namoro conturbado, mas verdadeiro, ou se a falsa harmonia do casal vizinho.
Cheguei da faculdade disposta a dormir profundamente, desligaria meu
celular para não falar com meu namorado, nem com ninguém. Só queria dormir,
esquecer momentaneamente meus problemas.
Quando já estava na cama, com a luz apagada, ouço os vizinhos chegando,
como sempre, cheios de risadinhas, de “benzinho” pra lá, de “amorzinho” pra cá.
Ouço a porta da casa deles abrindo-se, observo pela janela que ele a carregava
no colo naquele momento. Percebo a TV sendo ligada, certamente iriam ver
algum filme. Há quanto tempo eu e meu namorado não assistíamos a um filme,
não saíamos pra tomar sorvete, jantar fora? Meu ódio pelo casal cresce ainda
mais.
Decidi que isso não poderia mais continuar assim, eu precisava ter sossego
para descansar, estudar, dormir. Peguei silenciosamente uma faca na cozinha,
escondi dentro da blusa e saí. Quando percebi que estavam de costas para a
porta, sentados no sofá, abraçados – como se fossem um casal perfeito – entrei
e os esfaqueei com todo o meu ódio reprimido até aquele momento.
Voltei para o meu quarto, apaguei a luz e pude, enfim, dormir em paz.
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