LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018
Revolta
Clarice de Assis Rosa
Ituiutaba/MG
Tem coisa pior do que ter como vizinho um casal que fica o tempo todo
tratando-se por “amorzinho”, “benzinho”, “moranguinho” e demais adjetivos
similares? E como se não bastasse isso, ainda ficam rindo o tempo todo em que
estão em casa .Como eu estava morava no fundo da casa deles, além de ouvir,
muitas vezes ainda era obrigada a ver como eles se divertiam e pareciam
companheiros. Poxa, eu precisava estudar, terei prova na semana seguinte e
como eu vou conseguir com esses risinhos insuportáveis, esse romantismo que
mais se parece uma peça de teatro?
Eu trabalhava na parte da manhã e fazia faculdade a noite. Mantinha um
namoro cercado de brigas e desilusões havia 3 anos. Acostumamo-nos tanto com
esse relacionamento doentio, que rompê-lo parecia algo que jamais faria parte
dos nossos planos, afinal, que casal não brigava?
E eu detestava casais perfeitos, para mim era tudo fingimento, não poderia
existir quem não xingasse um ao outro, gritasse e até se estapeassem de vez em
quando.
Imagina o meu ódio, quando finalmente eu chegava em casa, depois de
mais uma das muitas brigas com meu namorado possessivo, tendo que ,ainda,
estudar e cuidar da casa. Sentada para estudar, ouço:
— Benzinho, vai descansar um pouco que hoje eu preparo a janta, você já
trabalhou muito hoje.
— De jeito nenhum, meu dengo, hoje quero fazer o bolinho de arroz, que
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