Revista LiteraLivre 12ª edição | Page 148

LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018 Pobre calanguinho! Sequer teve chance de reagir. Pobre velho! Tanto amor, e no fim... Ainda fora obrigado a ver a horrenda cena. “Quanta maldade!”, suspirou ele, no que expirou o calanguinho. Passado um tempo, e não conformado com a lei da ordem natural de que tudo tem o seu fim ou querendo talvez cumpri-la ao pé da letra, o velho resolveu a próprio punho dar um melhor fim àquela sua história de amor e amizade. “Justo. Mais do que justo!”, justificava-se almejando vingança. Vingança crua e fria. Tão fria quanto lagartixa em dias chochos de inverno. Obcecado, ele agora lá estava, tecendo... planos e mais planos por entre as folhagens do seu quintal. Não queria dar chances de fuga ao seu arqui-inimigo. Do luto à luta! Agora era o bicho homem à espreita. Eis que ele surge. O traidor, o destruidor atroz de seu maior deleite. E ficaram frente a frente. “Muito bem, covarde...”, incitou o velho chamando ao prélio. Não queria somente causar-lhe assombro. Não. Queria mais. Com ódio profundo nos olhos, rumou para cima, partiu direto ao golpe final, fatal. “Agora é a sua vez!”. E fora vingada a morte do calango. Na casa ao lado, uma menina chora copiosamente o seu gato que não mais voltara. Pobre criança, quanta maldade! 142