Revista LiteraLivre 12ª edição | Page 122

LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018 O Paraíso destruído Sonia Regina Rocha Rodrigues Santos/SP Nada me preparou para o inesperado. Nada. Era uma cálida tarde de outono, brilhante e ensolarada, aquele tipo de tarde em que as folhas amarelas, laranjas e marrons nos convidam a contemplar o mundo com olhos de artista. Foi então que eles apareceram. Às centenas. Descendo de todas as direções. O ônibus em que eu estava parou. Os passageiros desceram, atarantados, alguns medrosos. Fiquei atento ao céu, onde a luz do sol desaparecera como se encoberta por uma nuvem de gafanhotos, só que os “gafanhotos” eram naves espaciais. Muita coisa passou-me pela cabeça. A advertência de Chico Xavier sobre a data final. Aquela esquisita crença sobre um povo reptiliano. Os tais mestres ascencionados. Impotente, dei de ombros e obedeci, meio que anestesiado de susto, aos comandos das máquinas de lata que apareceram, e por elas fomos todos embarcados e evacuados. Alguns tentaram reagir ou dialogar com aquelas criaturas indiferentes - nem se intimidavam, nem revidavam, nem respondiam. Não saberia dizer quanto tempo durou a viagem. Não havia nenhum alienígena a bordo. Só nós e os robôs por quem fomos interceptados, tangidos, classificados e colocados em aposentos com água e comida. Talvez a música ambiente tivesse o propósito de acalmar os ânimos. Talvez vibrasse em alguma frequência hipnótica. O fato é que todo mundo permaneceu calado. Só quando a nave pousou e as portas se abriram é que as pessoas despejaram as emoções contidas. Um falatório inútil. 116