LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018
O Paraíso destruído
Sonia Regina Rocha Rodrigues
Santos/SP
Nada me preparou para o inesperado. Nada.
Era uma cálida tarde de outono, brilhante e ensolarada, aquele tipo de
tarde em que as folhas amarelas, laranjas e marrons nos convidam a contemplar
o mundo com olhos de artista.
Foi então que eles apareceram. Às centenas. Descendo de todas as
direções.
O ônibus em que eu estava parou. Os passageiros desceram, atarantados,
alguns medrosos.
Fiquei atento ao céu, onde a luz do sol desaparecera como se encoberta por uma
nuvem de gafanhotos, só que os “gafanhotos” eram naves espaciais.
Muita coisa passou-me pela cabeça. A advertência de Chico Xavier sobre a data
final. Aquela esquisita crença sobre um povo reptiliano. Os tais mestres
ascencionados.
Impotente, dei de ombros e obedeci, meio que anestesiado de susto, aos
comandos das máquinas de lata que apareceram, e por elas fomos todos
embarcados e evacuados. Alguns tentaram reagir ou dialogar com aquelas
criaturas indiferentes - nem se intimidavam, nem revidavam, nem respondiam.
Não saberia dizer quanto tempo durou a viagem. Não havia nenhum
alienígena a bordo. Só nós e os robôs por quem fomos interceptados, tangidos,
classificados e colocados em aposentos com água e comida.
Talvez a música ambiente tivesse o propósito de acalmar os ânimos. Talvez
vibrasse em alguma frequência hipnótica. O fato é que todo mundo permaneceu
calado. Só quando a nave pousou e as portas se abriram é que as pessoas
despejaram as emoções contidas.
Um falatório inútil.
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