LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018
O jogo
Vanessa Nunes
Rio de Janeiro/RJ
— Todos vocês precisam repetir comigo: Em nome de Deus, Jesus Cristo, da
Grande Irmandade da Luz, dos Arcanjos Michael, Raphael, Gabriel, Uriel e Ariel,
por favor protejam-nos das forças do mal durante esta sessão. Façam com que
não aja nada além de luz envolvendo este tabuleiro e seus participantes, e
permita que nos comuniquemos somente com forças e entidades da Luz.
Protejam-nos, Protejam esta casa, as pessoas presentes nela, e façam com que
aja somente Luz e nada além de Luz, amém. - Enquanto eu recitava a prece de
início do jogo, todos a minha volta repetiam. Quando dei por mim, Alan não o
fazia, só fingia e sorria alheio, como se não se importasse. - Alan pare com isso.
Todos estamos brincando, mas podemos invocar algo maligno por sua causa.
Você nem parece que é meu marido, age como um verdadeiro idiota.
— Ah para com isso, Renato. Quanta besteira. Quero ver quem é que vai mover
este ponteiro e deixar todos com medo. - E ele dava gargalhadas sem se
importar ou respeitar o que estávamos falando.
Os participantes do jogo me olhavam como se estivessem esperando que eu
tomasse alguma posição, mas como eu queria me divertir e não procurava brigas
deixei para lá. Não era o momento de falarmos sobre isso.
Abrimos o tabuleiro Ouija que eu tinha comprado e colocamos o ponteiro de vidro
em cima. Existem algumas poucas regras ao cumprir, mas eu disse aos jogadores
apenas as mais básicas que seriam: não desrespeitar os espíritos, fazer uma
oração no início e no final de cada sessão, não deixar que os espíritos levem o
ponteiro para as extremidades... Este tipo de coisa.
Começamos então com perguntas bobas: tem algum espírito aqui? Qual o seu
nome? E como todos estávamos com as mãos no ponteiro, a zoeira começou. Um
tentava mexer, de repente o outro, e o outro até que todo mundo gargalhava
sem parar. No fim, desistimos. Deixamos o tabuleiro em cima da mesa e fomos
assistir Netflix e comer pipoca.
Eu e Alan estávamos agarradinhos assistindo Jogo Perigoso de Stephen King
enquanto Jamie e Sam estavam se pegando sem parar no outro sofá nos
deixando constrangidos. Jamie é bissexual, mas até então só tínhamos o visto
com homens, Sam era a primeira mulher. De repente, em um momento do filme
ouvimos um barulho de copo quebrar, eu como boa menina que sou, me assustei.
– O que? Eu sou uma mulher no corpo de um homem, nem começa - Alan, vai lá
ver o que é isso.
— Eu não - Reclamou - O filme está ótimo e eu adoro o Tio King, você sabe bem
disto.
—Jamie, olha lá amigo o que está havendo, estou com medo. Vai que é algo do
jogo. - Quando falei isso me senti estúpido. Todo mundo riu da minha cara e Sam
comentou que deveria ser o vento, ele tinha aumentado consideravelmente lá
fora e estava mesmo com cara de que iria chover.
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