LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018
Medusa Enlouquecida
Penelope Jones
Curitiba/PR
Eu rasgo verbos
Quadriláteros pontiagudos
Cultivo minha maré
Verbos me antagonizam,
Músculos e versos
Misturo tudo que for intenso
Não rasgo minhas sedas
Não cedo minhas verdades
Se você sentir a minha maresia,
Vai ter os sentidos carcomidos,
Pois a minha verdade ácida
É para quem tem flores e forças.
Nem me chame para o sangue,
Me relegue para o sólido,
Eu não vou retirar minha mão da tua cara,
Nem que você volte a me cuspir,
Pois a tua face é que será molhada
Por todas as minhas coragens.
Se eu acordo menina
Te mostro a fêmea-fera
Que vai atropelar tua sanidade.
Quem me fez, jogou a receita para Zeus
Que comeu e não vomitou.
Lave a tua língua quando quiser beijar meu nome,
Leve em conta que sou a ferocidade do teu reflexo,
Só me domam quando eu visto pele de cordeiro,
Só me amam quando mostro que sou tudo, sou todas,
Amarga, doce, suave, intensa, salgada.
Não perde por esperar o mundo mudo.
Ainda vou me umedecer antes do sétimo selo ser rompido,
Antes da nascente virar rio,
Antes do delta ser mar,
Sou oceânica e, entenda,
Os monstros todos saem dos meus olhos,
Dos meus tempos,
Dos meus reflexos,
Medusa enlouquecida
Sendo única nos reversos dos meus dentes afiados
Revendo a ampulheta para te deglutir antes do almoço virar janta,
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