LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
Elos
Angélica Neneve
Cornélio Procópio
Sentada com o pequeno livro nas mãos contava-lhe uma estória: lia e relia as
partes que mais gostava, dava vida às personagens criando vozes engraçadas...
vez ou outra se perdia na leitura, então parava e contava sobre seu dia. Era
sempre assim que terminavam suas tardes. Após algumas horas, arrumava suas
coisas na mochila e ia para casa.
Mal podia esperar para que o próximo dia chegasse. O sol, ainda pálido,
mostrando sua timidez aos espectadores, surgia bem devagar. E ela já a horas
esperava o momento de se levantar.
Arrumava-se depressa. Um pedaço de pão aqui, um gole de suco ali, assim
começava seu dia, então corria para a escola. Sempre a primeira a chegar.
Tomava seu lugar de costume. Assistia a todas as aulas um pouco impaciente e,
assim que o sinal tocava, corria novamente ao encontro do irmão.
Eram inseparáveis. Gêmeos são assim mesmo. Ele sabia o que ela sentia e ela
podia dizer o mesmo.
Foi assim que, naquele dia comum, quando o sol brilhava intenso e quase não
havia brisa alguma para refrescar, ela soube. Soube antes mesmo de lhe
contarem. Na verdade, fora ele quem a contou: não com palavras, porém.
Sentiu uma sensação estranha de solidão. Quis chorar, mas não sabia o motivo,
então engoliu em seco: pediu à mãe que trouxesse algo para que pudesse tomar,
sentia muita sede.
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