Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 60

LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018 Do porto ao Tibete Camila Assad Quintanilha Presidente Prudente/SP na travessia eu me lembro que tenho asas frágeis se for preciso voar não poderei. eles dizem: londres, casacos xadrezes, clima rigoroso para corações ardentes. você vai chorar mais uma vez essa noite. eles dizem: laissez faire, laissez aller, laissez passer dizem que tudo passa, dizem viva la vida! não lhes dou ouvido & te desafio a desenhar linhas retas que alcancem o porto. * na travessia da balsa eu morri. mirei o infinito que estava atrás da sua cabeça não clamei socorro; deitei só, no gélido piso amadeirado. grandes navegantes do mundo revelaram absurdas novidades eu permaneci pato - nunca cisne. na travessia da barca eu morri porque insisti em nadar. * não era água. era areia. talvez fosse só o tempo. talvez fosse muita coisa porque era o tempo. eu fiquei sedenta, mas resignada. quem ousou encarar o tempo não retornou à margem. 54