LiteraLivre Vl. 2- n º 11 – Set / Out. de 2018
provocado pelo cangaço, liderados por Lampião. No decorrer do séc. XX, desenvolveu-se a cultura poética repentista, donde sobressai o poeta Patativa do Assaré. Na música, a figura folclórica de Luiz Gonzaga, o rei do baião, firmou-se em todo o Brasil. A culinária nordestina tornou-se, também, outro ponto forte.
No Sudeste, desde 1808, quando aqui aportaram a família real portuguesa, abriram os portos brasileiros às nações amigas. Esse ato político fez com que essa região, e também o Sul, tivessem relações diretas com países europeus e norte-americanos, criando um desenvolvimento cultural bem maior do que as províncias do Norte e do Nordeste. Na economia, com uma agricultura dedicada ao plantio da cana de açúcar, houve uma mudança para a riqueza maior com o plantio do café. Durante o segundo império, predominou uma assimilação da cultura francesa, que durou até os primeiros anos da república. Toda essa mudança sócio cultural, com aumento da classe aristocrática, com uma riqueza em que antes a colônia nunca tivera, veio aumentar o abismo entre o Nordeste esquecido e o Sudeste atualizado. Nem pelas veredas do grande sertão chegava ao nordestino uma atualização econômica e educativa, para que brasileiros ficassem em condições de igualdade.
Com o passar de séculos e décadas, a seca cíclica empobreceu o sertanejo em sua atividade familiar, obrigando-o a ceder suas pequenas propriedades à uma nova figura que surgia naquele mundo esquecido – o coronel de terras – o latifundiário daquelas regiões áridas de água e de humanidade. Sem querer justificar Lampião e seu cangaceiros, o coronel de terras foi o estopim para que surgisse no sertão aquela cruel figura mítica.
Até os dias atuais, com o Brasil em crise moral constante, que aumenta a olhos vistos, não se vislumbra uma possibilidade de se reverter tal quadro doentio de uma sociedade decadente, por falta da educação global, informal e formal, de um povo sem memória de suas tradições e de sua cultura. Lamentavelmente, tudo fica esquecido na noite dos tempos passados.
Somente a educação haverá de sobrepujar a atual escassez de tudo que temos em inaproveitada fartura num país naturalmente rico, porque, eticamente, injusta e moralmente pobre é a classe social dominante.
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