LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
Do porto ao Tibete
Camila Assad Quintanilha
Presidente Prudente/SP
na travessia eu me lembro que tenho asas frágeis
se for preciso voar não poderei.
eles dizem:
londres, casacos xadrezes,
clima rigoroso para corações ardentes.
você vai chorar mais uma vez essa noite.
eles dizem:
laissez faire, laissez aller, laissez passer
dizem que tudo passa, dizem viva la vida!
não lhes dou ouvido &
te desafio a desenhar linhas retas
que alcancem o porto.
*
na travessia da balsa eu morri.
mirei o infinito que estava atrás da sua cabeça
não clamei socorro; deitei só, no gélido piso amadeirado.
grandes navegantes do mundo revelaram absurdas novidades
eu permaneci pato - nunca cisne.
na travessia da barca eu morri porque insisti em nadar.
*
não era água. era areia.
talvez fosse só o tempo.
talvez fosse muita coisa porque era o tempo.
eu fiquei sedenta, mas resignada.
quem ousou encarar o tempo não retornou à margem.
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