Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 54

LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018 interior de minas, cuidando do jornal local. Pontiguassu era uma cidade típica de interior, vivia basicamente da agricultura e fora algumas festas e feiras realizadas ao longo do ano, era raro acontecer algo de interessante na cidade. Por isso uma eleição fora de época movimentava tanto os ânimos dos cidadãos. Os olhos do Brasil estavam apontados para Pontiguassu. O Prefeito eleito foi impedido de assumir o cargo. O escândalo ganhou repercussão nos telejornais, tinha muito dinheiro envolvido nos esquemas de corrupção, agora os pontiguacensses tinham a chance de escolher um novo prefeito, e dessa vez alguém melhor. Faltava uma semana para as novas eleições, a praça da igreja estava lotada de espectadores, o último debate estava prestes a acontecer. Eu acabava de voltar de férias e caia de cabeça, meio perdido, naquele turbilhão político sendo o responsável por cobrir o debate. Eu não conhecia os novos candidatos, sabia apenas que eram parentes, primos de segundo grau, alguma coisa assim… Chamavam-se Cláudio e Carlos. Tinham quase a mesma idade, eram advogados. Cláudio se candidatava pelo PCP, partido comunista pontiguacensse, e Carlos era o candidato do PDP, partido democrata pontiguacensse. Era um embate direto entre a esquerda e a direta local. Na internet eu havia visto algumas fotos dos candidatos. Carlos tinha um rosto oval, olheiras escuras e um nariz fino. Seu primo Cláudio tinha os olhos claros, um queixo quadrado e o mesmo nariz fino. Os dois candidatos surgiram sob as vaias e aplausos do público, eu distante do palanque forçava as vistas em vão ao tentar distingui-los. Inocentemente perguntei a um colega ao meu lado: “Você sabe quem é o Cláudio e quem é o Carlos?” “O Cláudio é o de camisa vermelha. O Carlos tá de camisa azul.” Agradeci sem jeito, para mim os dois candidatos estavam vestidos de roxo. “Não tem importância” pensei, poderia sem dificuldade identificá-los por suas ideias. O 48