Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 33

LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018 Batizado Tardio Júlio Bernardo Machinski Guarapuava/PR Na semana passada, a Camila telefonou convidando-me para a cerimônia de seu batizado tardio. Por eu sempre tê-la visto como uma historiadora materialista e agnóstica, fiquei meio atônito com o convite inusitado, desconfiando que se tratava de uma brincadeira. Mas, por via das dúvidas, ontem, na hora marcada, lá estava eu na casa dela. Fomos até a igreja, que ficava num bairro simples e distante, no carrão com ar-condicionado do namorado bonito e algo complicado que ela arranjou algum tempo atrás, que a arrastou pra igreja e que agora, ao que parece, virou seu novo marido. No trajeto, fomos escutando, em volume um pouco mais alto do que os meus ouvidos gostariam, alguns louvores de um CD de música gospel. Embora eu tenha nascido numa família católica e ande meio afastado da igreja há uns bons anos, já tive a oportunidade de frequentar, no passado, alguns cultos evangélicos a convite de amigos ou de familiares. No entanto, aquela seria a primeira vez que eu assistiria, ao vivo e in loco, a um batizado fora da tradição católica apostólica romana. A Camila, que estava com os cabelos naturalmente soltos, contrariando seu estilo punk rock habitual, cobria todas as suas inúmeras tatuagens usando um esvoaçante vestido de algodão verde-claro, com compridas mangas boca-de-sino e indo até a altura dos joelhos. Tal visual conferia-lhe um ar hippie-romântico- angelical e contribuía para eu me sentir uma espécie de figurante deslocado no clipe de Sin Sin Sin, do Robbie Williams. 27